Saiba o que é, por que é importante e como a ciência criou uma nova profissão.
Felicidade
, jornalista
14 min
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20 mai 2021
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Por Sabrina Bezerra
Felicidade não é euforia. Não é sorrir e abraçar as árvores o tempo todo. Não é algo superficial. “Felicidade é uma experiência de alegria, contentamento ou bem-estar positivo combinado a uma sensação de que a vida é boa, significativa e valiosa", diz a frase de Sonja Lyubomirsky, PhD Stanford e pesquisadora. O assunto é “o tema central da vida das pessoas. [Não é à toa que] é estudado há anos por filósofos gregos. Aristóteles falava que a felicidade era o grande objetivo, fim e propósito do ser humano”, diz Renata Rivetti, diretora e fundadora da Reconnect | Happiness At Work, empresa brasileira especializada em felicidade corporativa.
Foi nas duas últimas décadas que o tema ganhou espaço no meio científico. Isso porque “Martin Seligman — um dos pioneiros a estudar a psicologia positiva, campo de estudo dentro da ciência psicológica — começou a questionar os outros especialistas: ‘por que a gente só estuda as doenças como a ansiedade, o burnout, a depressão e não estuda o bem-estar, a felicidade, as nossas forças de caráter?’. Desde então, ele passou a pesquisar sobre gratidão, positividade e otimismo, e consolidou no meio acadêmico o conceito da psicologia positiva", afirma Renata.
A psicologia positiva não é ter sentimento positivo o tempo todo. “Tem que tomar cuidado com isso. Não é isso que os teóricos dizem. É o senso comum que diz que a gente tem que ter pensamento positivo [com frases como:] ‘ah! bola para frente. Pensamento positivo’. E não é assim que a gente funciona [isso é positividade tóxica]. Se você tem uma emoção negativa, você deve deixar fluir”, diz Tais Targa, psicóloga e especialista em carreira.
“Para sermos felizes, precisamos trabalhar em dois pilares: um deles é uma vida hedônica, uma vida de prazeres, uma vida de conquistas materiais. Mas se for só isso, em algum momento, a gente vai se sentir vazio. Então, a gente precisa também de uma visão eudaimonia, ou seja, de uma visão de uma de auto realização e significado”, afirma Renata. Para isso, é importante ter “autoconhecimento, auto responsabilidade e ação."
Apesar da Ciência da Felicidade ser estudada há décadas, foi durante a pandemia de coronavírus que o assunto ganhou proporção dentro das empresas — e o profissional de chief happiness officer (CHO) ganhou destaque (entenda abaixo). As empresas perceberam que usar o conceito da psicologia positiva “ajuda a manter os funcionários engajados, inovadores e produtivos”, diz Renata. Consequentemente, a taxa de “afastamento por saúde mental e turnover pode reduzir — e o lucro aumentar”, afirma a especialista.
Renata explica que o primeiro passo é estudar e entender sobre o conceito. “Precisamos desmistificar. Muitas vezes, as companhias entendem o conceito errado e gastam fortunas em programas que não vão trazer a felicidade." Por exemplo, "muitas empresas tem o foco apenas em oferecer bons benefícios como sala de jogos, kit onboarding incrível, festa de fim de ano, aumento salarial. É legal, claro. São aspectos fundamentais. Sem isso, a pessoa vai reclamar e ficar infeliz (se ela não tiver benefícios, salários pago em dia…), mas apenas isso não garante — de forma alguma — a felicidade. Felicidade corporativa é muito mais como as pessoas se sentem do que o que elas recebem da empresa. É quando elas se sentem valorizadas. É quando elas se sentem pertencidas. É quando elas se sentem reconhecidas.
Buscar emoções positivas não depende somente da empresa. Renata conta que é preciso que o profissional tenha autoconhecimento. “Claro que a gente vai passar por coisas chatas, a gente vai encontrar desafios, o dia não vai ser maravilhoso." “Mas é preciso buscar emoções positivas também – nem que seja parar por cinco minutos e tomar um café."
“Seligman apresentou os 5 pilares que sustentam sua teoria sobre a felicidade e servem para mensurar e embasar uma “vida florescente”, ou seja, repleta de bem-estar. O conjunto foi chamado de Modelo Perma”, diz Renata. Confira abaixo:
Neste pilar, é importante fazer a reflexão do que faz bem. "Seria a gente ter mais emoções positivas do que negativas. […] “Qualquer emoção positiva como paz, gratidão, satisfação, prazer, inspiração, esperança, curiosidade ou amor se enquadra nessa categoria”, afirma Renata.
O segundo tópico é quando a pessoa está em estado de flow. Ou seja, quando existe “a combinação perfeita entre ter um desafio e ter a habilidade de realizá-lo”, diz Renata. “Normalmente, as pessoas não sabem o que geram flow para elas – e o líder também não vai saber. Você precisa ter autoconhecimento e entender o que te gera flow. A liderança pode, no entanto, ajudar ao colaborador buscar esse autoconhecimento", afirma a especialista.
Segundo Vinicius Kitahara, fundador da Vinning, consultoria de felicidade no trabalho, a relação entre as pessoas é fundamental para ter felicidade. “Os teóricos concluíram que o que traz felicidade é o relacionamento. É você estar bem com os seus amigos, com a sua família, com os seus colegas de trabalho." “É ter algum grupo de apoio, alguém que você confie, alguém que você possa expressar caso você tenha um problema”, completa Renata. Com a chegada do home office as relações se tornaram um desafio, pois as conversas ficaram online e com assuntos apenas profissionais. Uma boa dica é “perguntar para o colega se ele está bem ao invés de perguntar se ele bateu a meta". “Outro ponto das relações que é essencial, é trabalhar o reconhecimento e a valorização das pessoas. As empresas cobram demais as metas, mas reconhecem pouco e valorizam pouco o colaborador”, diz Renata.
Esse item tem haver com o olhar que você tem para a sua carreira, emprego e missão. “Qualquer pessoa, em qualquer carreira, pode enxergar o trabalho como uma missão. Não precisa esperar a empresa perfeita ou o emprego ideal. Até porque isso não existe. Está muito mais no nosso próprio olhar de ter uma missão do que o emprego perfeito”, diz Renata.
Você ficaria feliz se recebesse salário para não trabalhar? Aposto que a sua resposta foi sim. Mas o estudo de três pesquisadores americanos apontou que as pessoas que foram pagas para não trabalhar ficaram infelizes. “Porque a gente precisa de metas e de objetivos – e ir celebrando todas elas”, afirma Renata.
Estamos na era do Mundo VUCA — volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. Não à toa que o número de profissionais ansiosos e deprimidos aumentou. Quando o assunto é Brasil, por exemplo, 30% das pessoas tem a síndrome de burnout, segundo uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association (ISMA-BR). Além disso, o Brasil é o segundo país com mais pessoas ansiosas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Diante desse cenário, o profissional chief happiness officer (CHO) tem ganhado destaque no mercado de trabalho, segundo Renata. Ele é responsável em criar estratégias para os profissionais com foco em felicidade. A Reconnect, por exemplo, empresa especialista em felicidade corporativa, já formou 79 chefes da felicidade nos últimos sete meses.
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Sabrina Bezerra é head de conteúdo na StartSe, especializada em carreira e empreendedorismo. Tem experiência há mais de cinco anos em Nova Economia. Passou por veículos como Pequenas Empresas e Grandes Negócios e Época NEGÓCIOS.
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