A tirania silenciosa do "sempre foi assim"

Quando alguém questiona um processo, sugere uma mudança ou propõe fazer diferente, a resposta mais comum não é "vamos testar". É "sempre foi assim". E com essa frase, morre não apenas a ideia — morre também a vontade de tentar de novo.

O curioso é que "sempre foi assim" raramente é verdade. Aquele processo tem 3, talvez 5 anos. Foi criado por alguém que já saiu da empresa, para resolver um problema que já não existe mais. Mas virou dogma. E dogmas não se questionam — se obedecem.

Essa frase funciona porque não precisa de argumento. 

Não demanda dados, não exige lógica. É autossuficiente. E quanto mais antiga a empresa, mais poderosa ela se torna, como se tradição fosse sinônimo de sabedoria.

Mas tradição e inércia são coisas diferentes. Tradição é escolha consciente de preservar o que funciona. Inércia é preguiça de questionar o que parou de funcionar há tempos. E a maioria das empresas que celebram "tradição" está, na verdade, refém da inércia.

Líderes corajosos reconhecem a tirania e a enfrentam. Não com agressividade, mas com método. Primeiro, legitimam a pergunta — criam ambientes onde questionar não é deslealdade, é contribuição. Segundo, exigem justificativa. Se algo é feito "porque sempre foi assim", não é justificativa. É confissão de que ninguém pensou sobre isso há anos.

Terceiro, testam o oposto. O que acontece se pararmos de fazer? Se fizermos diferente? Se dermos autonomia em vez de controle? A resposta quase sempre surpreende: nada de catastrófico acontece. 

E, muitas vezes, as coisas melhoram.

Destruir a tirania do "sempre foi assim" não é negar o passado. É reconhecer que o contexto mudou. O mercado mudou. As pessoas mudaram. E insistir em métodos antigos por pura teimosia não é preservar a essência da empresa — é condená-la à obsolescência.

Se você lidera pessoas, preste atenção na frequência com que "sempre foi assim" aparece nas conversas. Pode ser o sinal de que sua empresa não está preservando a tradição. Está apenas resistindo ao inevitável.