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“Ter chegado aqui não quer dizer que aprendi tudo”: a história por trás da única mulher negra CEO deste setor no Brasil

Tatiana Marinho, CEO da Gana, conta sua trajetória até a cadeira mais alta da agência, em momento histórico para a publicidade

“Ter chegado aqui não quer dizer que aprendi tudo”: a história por trás da única mulher negra CEO deste setor no Brasil

Tatiana Marinho, CEO da Gana (Foto: divulgação)

, Jornalista

8 min

29 jun 2023

Atualizado: 6 jul 2023

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O Censo de Diversidade das Agências Brasileiras 2023 mostrou que não existe nenhuma mulher negra no cargo de CEO em agências de publicidade no Brasil. Até agora. Tatiana Marinho acaba de assumir o comando da Gana, agência de publicidade formada 100% por pessoas pretas de todas as regiões do país.

De perfil analítico e pé no chão, Tatiana aceitou o desafio 11 meses depois de se tornar sócia. Ela é administradora de formação e constituiu sua carreira no financeiro, mas de uma forma mais inquieta. 

Primeiro porque a baiana queria desbravar São Paulo, chegou e aprendeu a primeira lição: “você tem que ter força e brigar, porque aqui você pode crescer, mas não é fácil”, diz ela. “Eu estava sozinha, não conhecia ninguém, dinheiro acabando, eu tinha que pagar aluguel. Eu falava não, não vou voltar para Salvador com essa sensação de derrota, né?”

Não voltou. Depois de 3 meses, ela engatou em uma grande agência de publicidade, onde construiu carreira na área financeira, mas começou a olhar para os processos de outras áreas, indo entender onde estava o problema que respingava no financeiro, no fim das contas.

De multinacional a um projeto inovador: como foi a transição?

Com uma equipe financeira estruturada, ela foi para Operações, onde assumiu um cargo de liderança mais estratégica, Diretora de Operações do Grupo Dentsu Inc, sendo responsável pelas agências NBS, Isobar e DentsuMB. Em uma multinacional, cotada para COO, com uma trilha de sucesso, vem o convite para fazer parte da Gana.

O projeto, à época, começou, mas não teve jeito: “é juntar fazer o que eu amo com um propósito muito maior, né?” Ela foi somar o tripé que já tinha um redator de origem e um diretor de arte de origem, Ary Nogueira e Felipe Silva, co-fundadores e co-CCO da agência.

O que mais chamou sua atenção? A possibilidade de revolucionar o setor. “É a gente conseguir desenvolver e dar valor às pessoas pretas. Eu passei anos em agência de publicidade e eu sei que essas pessoas não têm, tá? Eu tive a oportunidade, eu cresci, mas a grande maioria não tem.”

E o valor de potencial e propósito unidos: “Eu tenho que sair dessa zona de conforto, eu tenho que encarar isso, eu tenho que acreditar, eu tenho que fazer acontecer. Se lá na frente não der certo, volto para o mercado, eu construí minha carreira para isso, eu acredito no meu potencial.”

  • A agência, fundada em 2021, teve seu ano de estreia marcado por um faturamento de R$ 18 milhões e R$ 4,7 milhões de receita bruta. Indo para R$16 milhões em 2022 e R$10,9 milhões em receita bruta.

Isso tudo atendendo clientes como iFood, Netflix, Facebook, Havaianas, Kuat, Budweiser, Spotify e levando, no ano de 2022, no festival do Clube de Criação, a Estrela Preta (top prize) vencendo a categoria Melhor Ideia do Ano, com o podcast Mano a Mano, em parceria com o Spotify, e outros 7 prêmios. 

Como CEO, Tatiana espera crescer 30% em 2023 para garantir sustentabilidade. Para que isso aconteça, a ideia é fortalecer a governança corporativa, os processos e as pessoas, para seguir crescendo bem e estruturados. 


Foco em liderança feminina e formação de talentos

Para Tatiana, antes de assumir uma cadeira de CEO, é preciso olhar para as pessoas e conhecer profundamente a empresa. Por isso, a companhia vive este momento de cuidado interno, para fortalecer os talentos e consolidar estratégias internas de crescimento enquanto time. 

O primeiro passo é buscar talentos negros que vivem na invisibilidade do mercado e trazer para a Gana. Depois, fortalecer a liderança feminina. “Hoje, na Gana, 57% da liderança são mulheres, e nossa meta é atingir 65%”.

“Será que a mulher vai conseguir ser CEO? Será que a mulher pode assumir um cargo de liderança? Pode. Nós podemos estar onde nós quisermos. A liderança é lugar nosso também, nós somos muito capazes -- a gente é muitas vezes mais capaz”, afirma Tatiana.  

O setor da publicidade no Brasil hoje

O estudo inédito Publicidade Inclusiva: Censo de Diversidade das Agências Brasileiras 2023, realizado em conjunto pela Gestão Kairós, Consultoria de Sustentabilidade e Diversidade e o Observatório da Diversidade na Propaganda (ODP), confirmou que a publicidade feita no Brasil é branca e masculina, em sua grande maioria. 

  • E ainda que a maior parte da força de trabalho do mercado publicitário seja formada por mulheres (57%), a parcela que se identifica como mulher negra é de apenas 21%.
  • Nos cargos de chefia esta divisão é ainda mais desigual: a partir da gerência, a porcentagem de mulheres negras cai para 4,6%.
  • No recorte de raça da cadeira mais alta, os autodeclarados brancos ocupam 92% dos cargos de CEO e os negros correspondem somente a 8% das presidências.

Entre pesquisadas, nenhuma agência tinha uma mulher negra no comando mais alto.

Por que importa?

O foco de Tatiana e da Gana é conseguir criar para um Brasil tão vasto e diverso, sem esquecer quem são os brasileiros. Ela está de olho nos desdobramentos da Inteligência Artificial, NFTs, conectando-os à essência e ao propósito. 

E é só o começo: Tatiana marca um movimento de diversidade que está se consolidando não só na publicidade, como em todos os setores -- o ESG está aí para provar isso. Para ela, “ter chegado até aqui não quer dizer que aprendi tudo, não.” 

Mas foi pelo conhecimento que ela trilhou uma jornada de crescimento na carreira: “o conhecimento te dá sabedoria de passar por muitas situações, enfrentar situações difíceis.” 

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Imagem de perfil do redator

Jornalista focada em empreendedorismo, inovação e tecnologia. É formada em Jornalismo pela PUC-PR e pós-graduada em Antropologia Cultural pela mesma instituição. Tem passagem pela redação da Gazeta do Povo e atuou em projetos de inovação e educação com clientes como Itaú, Totvs e Sebrae.

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