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Direção, hipótese e mais: como criar uma estratégia para o negócio

Na coluna de estreia, Carolina Nucci, explica por que a sua empresa deveria enxergar a estratégia como um contínuo teste de hipóteses. Confira!

Direção, hipótese e mais: como criar uma estratégia para o negócio

(Foto: via Canva)

, Colunista

19 min

20 jul 2023

Atualizado: 20 jul 2023

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Chegou a hora de começar a planejar o novo ciclo estratégico da sua empresa. Ele geralmente começa antes do meio do ano, quando você mal começou a executar o planejamento anterior. Um cronograma de meses é apresentado e você começa a reunir um Everest de informações necessárias para formular um plano. Existe um template impecável, fornecido por uma consultoria de renome, com vários frameworks a serem preenchidos.

Com essa base em mãos e uma sequência de apresentações para várias lideranças, o plano chega na sua reta final. Um hotel lindo é escolhido, com ótima comida e uma programação divertida mesclada com workshops. Como resultado, temos em mãos um plano finalizado com o time energizado e reconectado para desdobrar a estratégia com o time, que sai de cada workshop com um roadmap de 2039572059 iniciativas e planos de ação para o ano que vem por aí.

Mas então, alguns meses depois… Alguma coisa se perde.

A cada reunião de status da estratégia, vem a frustração por um plano que não foi realizado como esperado. Entre os incêndios a serem apagados e um cenário que já não condiz com o projetado no ano anterior, não se sabe se a falha está na execução burocrática, lenta e pouco colaborativa, ou se as pessoas sequer se lembram da estratégia que foi planejada. 

Aliás, esse é um teste simples a se fazer: pergunte para seu time ou seus pares se essas pessoas se lembram logo de cara qual é a estratégia da empresa. Você pode até se perguntar a si mesmo: você se lembra? E aqui não estou falando sobre cada detalhe de um ppt gigante e nem de algo tão amplo como a missão e a visão da empresa. 

RESUMO DA ESTRATÉGIA

Pra mim, a estratégia se resume como "a lógica que explica por que e como a sua empresa vai prosperar"[1]. Pra provar meu ponto, trago aqui a referência de um estudo da MIT Sloan feito com grandes empresas: 

  • Segundo esse estudo, apenas 2% das pessoas colaboradoras conseguem apontar 3 das principais prioridades estratégicas das suas empresas
  • Mesmo entre líderes, esse percentual é de 28%, bem aquém do esperado[2].

Quanto mais complexa, top-down e escrita em pedra é a estratégia, menos ela funciona para seu objetivo principal: direcionar ação. Seja qual for a estratégia da sua empresa, ela precisa ser funcional e viva na mente das pessoas colaboradoras, como uma lógica que qualquer uma delas pode trazer para a prática - caso contrário, o que temos é um monte de gente confusa trabalhando pra apagar o próximo incêndio ou apertar o próximo parafuso sem saber por quê.

Reunião de equipe definindo metas com post-its (foto: Getty)

Isso quer dizer que todos os formatos de planos estratégicos que funcionaram por décadas estão errados? Não exatamente. Há um motivo pelo qual esse formato prosperou por tantos anos: ele nasceu de uma lógica industrial, "produtizada", adequada para um um contexto de mundo mais previsível e linear. 

Mesmo quando pensamos na estratégia de empresas bem-sucedidas no presente, muitas vezes tentamos imprimir a mesma lógica, como se todo o sucesso tivesse sido cuidadosamente planejado como sempre foi no passado - o que via de regra não é verdade. 

Pra fazer um tira-teima, pesquise mais sobre a história de empresas que você admira: muito provavelmente a estratégia que levou a empresa ao sucesso hoje não estava lá nos planos estratégicos de anos atrás.

Um exemplo muito citado é o do Facebook. A história que se conta sobre o crescimento desse gigante da tecnologia nos faz crer que a estratégia era clara desde o início: não se pode começar um negócio de tecnologia como uma plataforma, o certo é começar com um aplicativo com funções essenciais e, quando a base de usuários atingir um volume suficiente para criar um efeito de rede, é aí que você pode transformá-lo em uma plataforma. 

No entanto, a realidade foi outra: a visão dos fundadores foi sempre a de construir uma rede social e só quando a base de usuários ficou grande o suficiente eles levantaram a hipótese de transformá-la em plataforma. A estratégia não foi planejada, ela foi descoberta ao longo do caminho.


Mas por que achamos que essas estratégias foram planejadas? 

As pessoas fazem isso de propósito? Não. É natural que, após uma grande descoberta que transforma a estratégia da empresa, a gente faça uma retrospectiva racional e procure uma lógica por trás do que ocorreu. 

Fazemos estudos de caso e compartilhamos essa narrativa a partir do nosso entendimento. Isso é verdade inclusive nas nossas vidas pessoais. Mas o problema dessa retrospectiva racional é que essa visão nos faz crer, erroneamente, que uma estratégia de sucesso só é possível a partir de grandes planos visionários desde a sua concepção. 

No extremo oposto, isso também não significa que estratégias de sucesso só dependem de sorte e que devemos, enquanto líderes, esperar que essa sorte bata na nossa porta. É muito mais sobre a capacidade de identificar oportunidades e de agilmente trabalhar nelas - descobrindo se esse é um bom caminho ou não. 

Pensem um pouco sobre a forma como aprendemos na infância. Testamos, erramos, acertamos, ajustamos, aprendemos. Por tentativa e erro, aprendemos a andar, a cair e a levantar, a pedir o que queremos e encontrar o que precisamos. Fazíamos isso sem pensar e com a leveza de quem ainda não calcula riscos. A diferença de trazer esse comportamento para o contexto de uma empresa é justamente o risco. E é por isso que queremos planejar cada detalhe: pra reduzir ao máximo o risco.

Mas esse é um pensamento contraditório. No atual contexto de mundo,  as disrupções constantes e as inovações aceleradas tornam quase impossível prever com precisão como o mercado se desenvolverá. Nesse sentido, temos ainda clientes com mais e mais poder de barganha, com múltiplas opções e com toda a informação do mundo na palma da mão. Clientes que mudam seu comportamento a cada nova tecnologia e que, com isso, mudam continuamente a dinâmica dos mercados. Com essa velocidade das mudanças e as múltiplas variáveis em jogo, longos períodos de planejamento engessados e sem teste prático resultam em mais risco, pois o contexto-base para o planejamento interno pode não ser mais o mesmo quando o plano for pra realidade. Portanto, é mais sensato adotar um modelo mental ágil, onde a estratégia é um processo contínuo de aprendizado, experimentação e ajustes graduais. 

Se a descoberta é melhor que o planejamento, como descobrir uma estratégia de sucesso?

A descoberta da estratégia é um processo que reconhece essa natureza imprevisível e em constante evolução do mundo dos negócios. Ao invés de tentar prever e controlar cada um dos aspectos do ambiente empresarial, essa abordagem se baseia na capacidade de se adaptar às circunstâncias em tempo real, explorando oportunidades e ajustando a rota conforme necessário a cada passo da jornada de execução, abraçando a incerteza como um terreno fértil para a inovação e o crescimento.

É importante destacar também que a descoberta da estratégia não nega a importância do planejamento, mas enfatiza a necessidade de flexibilidade e adaptabilidade. Ao invés de se concentrar em planos detalhados e inflexíveis, o contexto pede pela adoção de uma abordagem mais aberta, baseada em hipóteses e experimentos. Isso envolve formular suposições sobre o mercado, os clientes, os concorrentes e testá-las no mundo real para validar sua viabilidade.

Através de experimentos e iterações, as empresas podem aprender rapidamente o que funciona e o que não funciona. Essa abordagem, baseada em evidências práticas muito mais do que em teorias que nem sempre se sustentam na realidade, permite uma tomada de decisão mais informada e reduz o risco de investimentos significativos em caminhos que podem não ser eficazes. A descoberta da estratégia encoraja a aprendizagem constante, a adaptação contínua e a exploração de novas oportunidades à medida que surgem.

Apesar dessa não ser uma visão que se adote 100% do dia para a noite, há aprendizados valiosos de quem já passou por esse processo. Na minha jornada profissional, vivi os dois extremos: trabalhei mais de 10 anos em multinacionais complexas imersas em modelos tradicionais de planejamento e quase 6 anos no extremo oposto, no mundo de tecnologia e inovação. 

Há o que aprender em ambos os lados para trazer dicas que deixem o tema mais pragmático e viável. Então, para não ser uma mudança que já começa errada para outras empresas que querem testar essa abordagem mais ágil para a estratégia, deixo 5 pontos essenciais:

1 - A descoberta só é eficaz quando tem uma boa direção

É importante ressaltar que a descoberta da estratégia não significa ausência de direção ou propósito ou testar tudo ao mesmo tempo agora já. Uma empresa que adota essa abordagem ainda precisa ter uma visão clara e uma compreensão profunda dos seus valores fundamentais e do seu norte, aonde quer chegar. Esses elementos fornecem uma base sólida para a priorização e exploração de hipóteses, além de orientar a tomada de decisão em meio às incertezas.

2 - O planejamento da descoberta da estratégia se inicia encontrando boas hipóteses

Como falei no início, a descoberta também precisa de planejamento. Mas, nesse caso, o planejamento envolve a análise de dados internos e externos, pesquisas sobre clientes e mercado e insights do time interno para mapear oportunidades e hipóteses valiosas para a empresa chegar mais perto do norte desejado. Hipóteses baseadas em dados reais e atualizados têm maior probabilidade de sucesso. Com um bom mapeamento, é possível priorizar as hipóteses de acordo com impacto, confiança e facilidade, por exemplo.

Empreendedorismo, reunião, gráfico, equipe, trabalho (Foto: Pexels)

3 - Top-down e bottom-up, de forma colaborativa e quebrando silos

A visão de descoberta da estratégia fica muito limitada quando conta somente com a alta liderança da empresa ou fica restrita a apenas um time. Estruturas muito hierárquicas e compartimentalizadas refletem diretamente na estratégia, deixando-a desalinhada (com times às vezes projetando estratégias conflitantes ou retrabalhadas) e restrita às lideranças que não dedicam o devido tempo para engajar e envolver o seu time - time esse que será essencial para viabilizar a estratégia na prática e que certamente possui as melhores hipóteses para testar, uma vez que é o time que está com a mão na massa no dia-a-dia da execução. 

Em suma, é a coordenação e colaboração entre pessoas e os times que abre espaço para a articulação, alinhamento, sinergia rápida e compartilhamento de insights.

4 - Só testa de verdade quem tem método e consistência até o final

3 erros sobre cultura de experimentação: achar que ela é sobre testar qualquer coisa de qualquer jeito; fazer um teste tão grande que vira projeto longo; ou testar sem medir ou querendo validar mais de 1 variável por vez. Esses erros, quando ocorrem na realidade, dão a falsa impressão de que essa mentalidade não funciona. A cultura de experimentação envolve: 

  • Direção para priorizar as hipóteses de acordo com critérios relevantes para o negócio
     
  • Adequação do esforço do teste de acordo com o nível de certeza e fidelidade na solução, começando rápido e barato e aumentando a fidelidade a cada iteração 
     
  • Definição de métricas de sucesso e boas condições de contorno, idealmente com o foco em uma variável para avaliar, pois com mais de 1 variável você não sabe o que deu certo e o que não deu certo no teste. Como esse assunto dá um pano pra manga, vou fazer o próximo artigo só disso

5 - Olhos atentos para as oportunidades inesperadas

Um dos benefícios desse olhar de descoberta da estratégia é a capacidade de aproveitar oportunidades inesperadas. As surpresas, sejam elas boas ou ruins, indicam uma mudança de trajetória ou um fato novo que vale explorar. 

Muitas vezes, as melhores ideias e oportunidades de negócios surgem de maneira imprevisível, e as empresas ágeis e abertas à descoberta estão mais bem posicionadas para capitalizá-las. 

Ao invés de ficarem presas a planos estratégicos engessados, essas empresas têm a liberdade e a agilidade necessárias para aproveitar oportunidades emergentes e responder rapidamente às mudanças do mercado.

De um jeito ou de outro, o que queremos em qualquer negócio é encontrar as hipóteses corretas que fundamentam uma estratégia de sucesso. Mas com esse mundo de mudanças cada vez mais rápidas, as hipóteses também podem mudar, o que faz com que a estratégia esteja sempre em beta.

Referências bibliográficas:

[1] Aula Strategy by Design, do Programa Executivo de Stanford The Emerging CMO (Advanced Marketing Management), cursado em agosto de 2022.

[2] Sull, Donald; Sull Charles; and Yoder, James. No One Knows Your Strategy — Not Even Your Top Leaders. Boston, MA: MIT Sloan Management Program, 2018.

*Este artigo não representa a opinião da StartSe; a responsabilidade é da autora.

Como construir uma estratégia flexível capaz de ser mudada (sem impactos) ao longo do caminho?

Estratégia é um meio para um fim, mas ela precisa ser revista conforme o terreno muda. Existem uma série de novas ferramentas capaz de flexibilizar estratégias rígidas muito além do modelo SWOT e outros frameworks mais tradicionais. As empresas do Vale do Silício fazem isso a bastante tempo, e agora as empresas brasileiras estão olhando para isso também. Nosso CEO, Piero Franceschi e nosso CIO, Cristiano Kruel, explicam aqui como levar essas ferramentas para sua empresa de forma rápida. Confira aqui todas elas e prepare-se. Você nunca mais fará estratégia da mesma maneira.

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Sócia e CMO na @weme, design-driven tech consultancy, co-founder Libri, plataforma talent-first de contratação de talentos remotos, board member Women in Sales e @Harpoon, Knowledge Expert na Startse e TEDx Speaker I Jornalista, engenheira, marketeira, professora e mãe | +15 anos impulsionando negócios centrados nas pessoas, de startups a grandes corporações.

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