O que a retórica de Trump contra Elon Musk revela sobre risco político até nos centros de poder
Elon Musk (Foto: Divulgação)
, redator(a) da StartSe
6 min
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3 jul 2025
•
Atualizado: 3 jul 2025
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Imagine o país que mais cultua o empreendedorismo ameaçar expulsar o seu mais icônico inovador. Não se trata de roteiro de sátira política — é o que Donald Trump acaba de insinuar publicamente sobre Elon Musk. E não é só bravata: essa ameaça, ainda que juridicamente absurda, carrega mensagens perigosas para o ecossistema de inovação, para a estabilidade institucional e, principalmente, para líderes que pensam estar imunes à política.
Trump foi questionado recentemente se pretendia deportar Musk após uma escalada pública de críticas entre os dois. A resposta: “Vamos analisar”.
O tom pode parecer dúbio, mas a estratégia é clara. Mais que um ataque pessoal, é um gesto simbólico — e, como tal, carregado de intenção.
Trump e Musk já estiveram em lados próximos. Em governos anteriores, o bilionário teve acesso privilegiado à cúpula política, sendo tratado como peça-chave para manter os EUA competitivos em tecnologia espacial, mobilidade elétrica e inteligência artificial.
Mas, como é comum no jogo de poder, essa aliança começou a ruir assim que Musk passou a criticar publicamente os planos fiscais de Trump.
O estopim recente? Musk chamou de “estelionato fiscal” o pacote de gastos conhecido como “Big Beautiful Bill”, acusando Trump de endividar o país como nunca antes. A retaliação veio rápida: ameaça de cortar subsídios federais à Tesla e à SpaceX, rever contratos públicos e, no auge da retórica, “dar uma olhada” na cidadania de Musk.
Musk é cidadão americano naturalizado. Deportá-lo exigiria revogação da cidadania por fraude comprovada no processo de naturalização — algo extremamente raro e sem precedentes em alguém com tamanha visibilidade pública.
Mas o que importa aqui não é a plausibilidade jurídica. É o precedente simbólico: usar o poder do Estado para ameaçar quem questiona ou desafia o poder.
Musk, por sua vez, teria reforçado recentemente sua cidadania canadense — sinal de que a confiança na previsibilidade institucional americana começa a ruir até para os insiders do sistema.
Para o ecossistema de inovação, o recado é claro: o ambiente político americano, que sempre atraiu os melhores talentos globais, começa a se tornar instável.
Startups, investidores e fundadores devem considerar o risco político — algo antes associado a economias emergentes — como parte da equação estratégica. A ameaça a Musk é também um alerta para qualquer negócio que dependa de subsídios, contratos públicos ou mesmo capital institucional sensível a variações ideológicas.
E para as lideranças empresariais brasileiras? Vale refletir. Estamos em um momento em que a dependência do Estado — seja para fomento à inovação, crédito verde ou digitalização — é inevitável.
Mas o episódio “Musk vs. Trump” mostra que quando o jogo vira, o Estado pode deixar de ser parceiro e passar a ser risco.
Se Trump pode “analisar” a deportação de Elon Musk, o que isso diz sobre a segurança de qualquer outro empreendedor, por mais genial que seja?
A nova era da inovação exigirá mais do que ideias disruptivas: exigirá musculatura institucional, sofisticação geopolítica e, acima de tudo, coragem para operar em um mundo onde até a inovação pode ser considerada uma ameaça.
Para quem acompanha política e economia internacional, principalmente o governo Trump 2, sabe que essa deve ser mais uma cortina de fumaça.
Na Guerra das Narrativas, Trump é franco atirador. Musk, goste dele ou não, concorde com ele ou não, atingiu o patamar de “símbolo da inovação norte-americana”. Tirar ele do país seria uma derrota estrutural, jogando contra a própria nação.
Do outro lado do mundo, a China, que não tem nada a ver com isso, assiste de camarote a rinha de bilionários egocêntricos.
Vamos fazer o mesmo e acompanhar.
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Jornalista e Copywriter. Escreve sobre negócios, tendências de mercado e tecnologia na StartSe.
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