A exaustão no trabalho, o impacto da liderança na saúde mental e a urgência de integrar tecnologia, empatia e consciência sistêmica para reconstruir um novo modelo de gestão.
Foto: Pexels
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9 min
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5 ago 2025
•
Atualizado: 5 ago 2025
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Em um mundo de constante aceleração, onde o bombardeio de informações é diário e a linha entre trabalho e vida pessoal se dissolve, a exaustão virou uma realidade. O que fazer quando, mesmo após uma noite de sono, a sensação de cansaço persiste? Ou quando, no ambiente de trabalho, parece que as pessoas não conseguem se comunicar de forma eficaz, gerando frustração e irritação?
Essas questões, longe de serem isoladas, são sintomas de um modelo ultrapassado, cartesiano, que nos ensinou a compartimentar a vida em caixinhas separadas: profissional e pessoal. Acreditamos que um bom currículo, um mestrado ou uma pós-graduação são suficientes para nos tornar líderes competentes. No entanto, o que acontece quando as dores invisíveis e os traumas do passado invadem o ambiente corporativo?
Estamos vivendo o ápice de um colapso. O sistema que construímos, baseado em uma divisão artificial entre corpo, mente e espírito, não funciona mais. O futuro não é sobre escolher entre o conhecimento do passado e a tecnologia, mas sim sobre integrar o que aconteceu no passado com as inovações do presente. Precisamos unir a saúde mental, a inteligência artificial e a sabedoria humana para criar uma nova tecnologia, uma que realmente resolva os problemas que enfrentamos.
Essa sensação de cansaço generalizado não é uma percepção isolada, mas o reflexo de uma epidemia de saúde mental. Dados do Ministério da Saúde e de pesquisas recentes indicam que o Brasil, de fato, lidera o ranking mundial de ansiedade. O número de afastamentos por transtornos mentais, por exemplo, dobrou na última década, saltando para mais de 440 mil licenças por ano. Esses números alarmantes mostram que a sociedade e as empresas não podem mais ignorar o problema. A exaustão e a falta de engajamento no trabalho são sintomas de um sistema que está em colapso, não apenas individualmente, mas de forma estrutural.
Nenhum teste de perfil comportamental ou oficina de descompressão é capaz de resolver as dores invisíveis que os colaboradores carregam consigo. O trauma mora no corpo, e para reconhecê-lo, é preciso mais do que dados e métricas: é preciso a inteligência viva, a mais poderosa que existe. Somos a única máquina capaz de identificar o sofrimento humano através da empatia e dos neurônios-espelho.
A irritação diária e a percepção de que a equipe não "escuta" estão diretamente ligadas ao papel da liderança. Um estudo da Forbes Brasil com mais de 3 mil pessoas revelou um dado surpreendente: os líderes impactam a saúde mental dos colaboradores mais do que os próprios terapeutas. Isso acontece porque a forma como um líder se comunica, como ele lida com seus próprios desafios e como ele cria um ambiente de confiança, tem um impacto direto no bem-estar da equipe. A vulnerabilidade do líder, ao falar de suas próprias dificuldades, gera um senso de pertencimento nos liderados, mostrando que a empatia e o acolhimento são mais eficazes do que qualquer manual de gestão.
A verdadeira liderança, aquela que carregamos no nosso DNA, não foi aprendida em cursos de gestão, mas em casa. Dados de psicologia mostram que muitos dos comportamentos que vemos nas empresas — a dificuldade de pedir ajuda, a insegurança crônica ou a busca incessante por reconhecimento — são reflexos de traumas de infância. Aquele que se sentiu rejeitado pelos pais muitas vezes se torna o colaborador que precisa de validação constante. O que foi responsável cedo demais, se torna o líder sobrecarregado que não delega. Essas são as dores invisíveis que os testes tradicionais de RH não conseguem mapear. E a boa notícia é que, ao reconhecer e ressignificar esses padrões, o líder se torna não apenas mais consciente de si, mas também mais capaz de entender e apoiar a sua equipe.
A inteligência artificial não é uma inimiga, mas sim uma aliada. O segredo para vencer o jogo não é brigar com a tecnologia, mas sim entender e aplicar três regras sistêmicas fundamentais, popularizadas pelo terapeuta Bert Hellinger: pertencimento, ordem e equilíbrio.
Quando ignoramos essas leis, as consequências são graves e visíveis no dia a dia da empresa. Olhar para esses pontos nos permite fazer um diagnóstico profundo e sistêmico, solucionando as causas, não apenas os sintomas.
Somos a geração que viu o mundo real e que segurou o número zero no orelhão para fazer uma ligação. A nossa herança é a nossa capacidade de nos conectar com o que é real. E para que essa capacidade não se extinga, precisamos olhar para nós mesmos e para o nosso legado: a união entre o humano e o digital para criar um futuro mais saudável.
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LinkedIn Top Voices 2021 na Área de Carreiras. Especialista em Recursos Humanos e Diversidade e Inclusão. É palestrante, mentora, consultora de desenvolvimento focado em Diversidade.
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