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Caso Americanas: Rial diz que CEO era "controlador" e teve dificuldades em ter informações da gestão anterior

O ex-CEO foi prestar esclarecimentos no Senado e trouxe a perspectiva de como estava a empresa quando assumiu

Caso Americanas: Rial diz que CEO era "controlador" e teve dificuldades em ter informações da gestão anterior

Sergio Rial - homem careca, vestido de terno, com óculos transparente se apresentando (Fonte: Getty Images)

, Jornalista

8 min

12 jan 2023

Atualizado: 19 mai 2023

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Sérgio Rial, que ficou dez dias no comando da Americanas como CEO e denunciou o rombo contábil bilionário, esteve ontem na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado para explicar as inconsistências contábeis.  

  • Ele, que assumiu em janeiro de 2023, disse ter pouca clareza sobre a situação da empresa, controlada durante cerca de 20 anos por Miguel Gutierrez. 
  • Para Rial, Gutierrez não fez a sucessão de cargo de forma apropriada e que ele era controlador: “Era uma pessoa com características de CEO, tendo estado na empresa há tanto tempo, centralizador, no sentido de que as informações eram muito bem controladas, vamos dizer, por ele juntamente com sua diretoria.
  • Ele disse ainda ter tomado conhecimento do rombo contábil na empresa em 4 de janeiro, quando dois diretores falaram que a dívida bancária da Americanas não foi devidamente contabilizada na rubrica “bancos” do balanço.

“Até o dia 26 de dezembro (de 2022), não se sabia prospectivamente o que seriam os resultados da Americanas para 2022. Na realidade, não sabemos até hoje. Na realidade, o quarto trimestre, até agora, não foi publicado”, disse.

Plano de recuperação judicial da Americanas

Em novo passo, a Americanas apresenta plano de recuperação judicial. Dando seguimento ao processo iniciado em 19 de janeiro, em que a empresa admitiu ter R$ 43 bilhões em dívidas com 16,3 mil credores. 

Para tentar se recuperar, ela planeja um aporte de R$10 bilhões, feitos por Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira. Além disso, a varejista pretende vender uma aeronave, avaliada em mais de R$ 40 milhões, e também a venda da unidade de negócios Hortifruti Natural da Terra e da participação no Grupo Uni.Co, que inclui empresas como a Imaginarium, Puket e LoveBrands, e a VEM Conveniência. 

Garantia de sucesso? Para seguir, o plano precisa ser aprovado pela maioria dos credores. Para isso, a empresa tem 150 dias para convocar uma assembleia com os credores para aprovar o plano. 

Com a reestruturação, a empresa planeja pagar as dívidas em 30 dias a prazos que podem chegar a março de 2043.

Fachada Lojas Americanas (Foto: Divulgação Lojas Americanas)

Mudança nos centros de distribuição das Americanas

A Americanas está enxugando suas operações. Recentemente, fechou um centro de distribuição em Fortaleza. A operação, que antes acontecia no Ceará, agora deve acontecer em um centro de distribuição em Recife. E este pode ser só o começo: há rumores de que ela também devolva espaços de armazenamento em Curitiba, Porto Alegre e Hortolândia, em São Paulo.

A medida pode ter um impacto no varejo além da Americanas, pois pode aumentar o aluguel nos espaços que são divididos com outras empresas.

Há algumas semanas, a companhia afirmou que não conseguiria pagar os aluguéis de lojas do shopping, até que o Grupo 3G resolveu investir R$ 1 bilhão. 

Veja o posicionamento da Americanas enviado à StartSe sobre o devolvimento do centro de distribuição:

“A Americanas S.A. segue operando normalmente, mantendo seu propósito de entregar a melhor experiência aos consumidores. A companhia informa que o encerramento das atividades do centro operacional de Fortaleza (CE) faz parte de uma estratégia de otimização dos espaços de armazenagem, em andamento desde o segundo semestre de 2022, quando o centro de distribuição da companhia na cidade foi desativado. A Americanas reforça ainda que a mudança não impacta nas entregas aos consumidores locais e que nenhum colaborador foi desligado. A operação do Ceará é suportada pelo centro de distribuição da Americanas localizado em Recife (PE), que se mantém conectado a parceiros de distribuição da região e às mais de 70 lojas Americanas no estado. A companhia informa ainda que o planejamento logístico para 2023 está sendo revisto considerando a nova realidade financeira da companhia, mas que ainda não há definições.


A Americanas segue avançando no desenho de um acordo com os seus credores e reitera que os pagamentos devidos seguem em regime de normalidade para eventos posteriores ao início da Recuperação Judicial (RJ). A companhia informa que os valores de aluguéis vencidos e não pagos até a data do pedido da Recuperação Judicial constituem dívidas que seguirão as exigências do processo, que a impede de efetuar pagamentos cujo evento de origem seja anterior ao início do pedido realizado.” 

Caso Americanas: empresa ganha um novo CEO

A Americanas tem um novo CEO: Leonardo Coelho Pereira. O executivo atuou como sócio da consultoria Alvarez & Marsal, especializada na reestruturação de empresas e contratada pela Americanas para tocar o processo de recuperação da companhia.

A movimentação acontece cerca de um mês depois do rombo bilionário da varejista (entenda mais adiante) e da renúncia de Sergio Rial.

Com a chegada de Pereira, João Guerra, que ocupava o posto interinamente, volta a atuar como diretor de recursos humanos da empresa. 

“Leonardo Coelho Pereira é um executivo com sólidas e bem-sucedidas experiências em empresas do setor de varejo, assim como em ambiente de consultoria de reestruturação, tendo exercido posições de liderança em empresas dominantes em seus segmentos”, diz a empresa fato relevante. 

Relembre a mais grave crise da história da Americanas:

Logo da Americanas no navegador (foto: reprodução)

CEO das Americanas, Sergio Rial, renuncia após descobrir rombo de R$20 bilhões. Em nota, empresa diz que foram encontradas "inconsistências contábeis" ligadas à conta de fornecedores. O anúncio, claro, gerou muito barulho no mercado, incluindo queda de ações, e assusta, principalmente, por conta do histórico recente de investimentos, lucro e sucesso da empresa. 

Em nota postada no LinkedIn, o ex-CEO explica que diz que a situação da empresa veio à tona após conversas com "executivos remanescentes" e rejeitou "teorias distintas". Para ele, os nove dias em que esteve à frente da operação foram “lições profundas de governança, autenticidade e coerência.”

No texto, ele justifica sua saída como necessária para que a empresa se reestruture da melhor forma possível, já que foi contratado para comandar as Americanas em um cenário completamente distinto. Além disso, deixa uma reflexão: ser líder não é ser corajoso, mas ser responsável e ético; não é ser herói ou heroína, mas ter a resiliência para defender a verdade e fazer o que é certo."

Mas qual é o histórico recente da Americanas? 

Em maio de 2022, a gente lia sobre o crescimento de 22% das Americanas em comparação ao período anterior, segundo a Ecommerce Brasil. A plataforma se destacava pela omnicanalidade, já que as pessoas voltavam ao varejo físico, enquanto muitos seguiam a tendência da pandemia de compras online.

À época, ela era uma das cinco marcas mais influentes do Brasil, segundo pesquisa divulgada em abril pelo Ipsos (Instituto de Pesquisa de Mercado e Opinião Pública) — era a primeira marca brasileira no ranking.

Inovação e startups estavam no radar da Americanas

A AME, fintech da Americanas S.A., também se destacou no primeiro trimestre, não só por bons resultados, mas também pelo movimento de inovação que trouxe ao grupo. Por isso, a empresa anunciou em abril a estruturação da vertical de corporate venture capital (CVC), querendo focar em startups que tivessem conexão com as estratégias do negócio.

Ela também lançou sua primeira loja no metaverso, dando mais um passo na transformação digital e se diferenciando da concorrência. 

Americanas se destaca em transparência e em ESG no início de 2022


Voltando um pouco, em janeiro de 2022, um dos fatos surpreendentes é que a Americanas S.A. entrou no The Sustainability Yearbook, anuário que reúne empresas que se destacam em critérios como transparência de informações, ética e conduta, compromissos ambientais e de impacto social. Além disso, foi listada no ranking das companhias abertas com as melhores notas no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da bolsa brasileira, a B3.

E como foi o segundo semestre de 2022 para a Americanas?

Em junho, foram divulgadas cerca de 400 demissões no país ao longo dos dois meses anteriores, segundo o layoffsbrasil.com.

Consultada pela Reuters, a Americanas afirmou em nota que “como uma das maiores empregadoras do país e com mais de 43 mil colaboradores em todas as regiões, ajustes de quadro e adequação de perfis profissionais garantem eficiência e a estratégia de longo prazo em seus negócios”.

Junto a isso, em agosto, a companhia informou um prejuízo líquido de R$ 98 milhões no segundo trimestre de 2022. E ainda em agosto, no dia 22, a empresa anunciou que Sergio Rial (ex-presidente do Santander) iria substituir Miguel Gutierrez como CEO da empresa, a partir de 1º de janeiro de 2023.

Fachada Lojas Americanas (Foto: Divulgação Lojas Americanas)

A notícia animou o mercado. A XP Investimentos comentou, em relatório, que Rial possui um “histórico de gestão focado em controle de custos e será uma liderança motivadora e inspiracional, características que serão chave para suportar a transformação em curso da Americanas, além de trazer mudanças estruturais no processo de transformação cultural da companhia.”

Agora o susto: Americanas encontra rombo contábil de R$ 20 bilhões e CEO renuncia

Conforme revelado em comunicado pela companhia na noite de quarta-feira (11/01), a nova diretoria da varejista descobriu inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões na empresa. O valor passou despercebido pela contabilidade da companhia e pela auditoria, realizada pela PwC.

O rombo já gerou movimentações: Sergio Rial e André Covre, que havia assumido no início de 2023 como presidente e diretor financeiro, respectivamente, renunciaram aos cargos. Quem assumiu foi João Guerra, executivo de dentro da companhia responsável pelas áreas de tecnologia e recursos humanos, e não envolvido anteriormente na gestão contábil ou financeira.

Nesta quinta (12/01), Sergio disse que os R$ 20 bilhões negativos “são a melhor estimativa” perante as informações encontradas nos nove dias da sua gestão. Além disso, destacou que não há dúvidas de que a companhia precisará ser capitalizada.

Em conferência, organizada pelo BTG Pactual e transmitida online para número limitado de participantes, o ex-CEO contou ainda que percebeu problemas no reporte de itens da conta “Fornecedor” no balanço da Americanas e que muitos pagamentos aos fornecedores, quando eram financiados por bancos, não eram vistos como dívidas nas planilhas.

Por que importa?

O que será do futuro da companhia que está no mercado brasileiro há 94 anos e que hoje, até o momento, tem suas ações (AMER3) com queda de mais de 80% na bolsa, só os próximos passos, decisões institucionais e uma possível - e necessária - capitalização dirá.

Fato é que empresas da Nova Economia, empresários, gestores e CEOs precisam estar conectados a frameworks mais ágeis de gestão para identificar erros graves como esse e tomar as decisões necessárias. Antes que o custo do erro cause prejuízo ao futuro da companhia.

Leitura recomendada

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ESG

A história da Americanas tem a ver também com ESG. Para entender mais sobre o tema, participe do ESG Innovation Day 2023, encontro executivo de negócios com as principais referências no assunto. Participe!

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Imagem de perfil do redator

Jornalista focada em empreendedorismo, inovação e tecnologia. É formada em Jornalismo pela PUC-PR e pós-graduada em Antropologia Cultural pela mesma instituição. Tem passagem pela redação da Gazeta do Povo e atuou em projetos de inovação e educação com clientes como Itaú, Totvs e Sebrae.

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