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Made in Brazil: uma análise do tarifaço de Trump além da narrativa política

A decisão de Trump de taxar produtos brasileiros em 50% é mais do que um revés comercial, é um alerta para executivos, conselhos e líderes que ainda tratam o risco político como tema secundário no planejamento estratégico.

Made in Brazil: uma análise do tarifaço de Trump além da narrativa política

Foto: Pexels

, redator(a) da StartSe

9 min

10 jul 2025

Atualizado: 10 jul 2025

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Se você é empresário, executivo, líder de setor ou dono de uma indústria, uma pergunta precisa incomodá-lo profundamente neste momento: o que fazer quando o Brasil passa a figurar na lista negra de uma das maiores potências comerciais do planeta?

No dia 9 de julho de 2025, Donald Trump enviou ao presidente Lula uma carta que soou como um recado duro e definitivo: todos os produtos brasileiros passarão a pagar uma tarifa de 50% para entrar nos EUA a partir de 1º de agosto.

O tarifaço é tão amplo quanto simbólico. 

E por isso, perigoso.

O recado que veio pelo imposto

Trump diz que o Brasil está violando “liberdade de expressão” e promovendo censura digital, numa alusão direta ao Supremo Tribunal Federal, à regulação das Big Techs e ao julgamento de Jair Bolsonaro. 

Mas o pano de fundo é mais profundo (e mais político): o comércio virou munição ideológica, e o Brasil está no meio do fogo cruzado.

Em sua carta, Trump alega déficit comercial com o Brasil — o que é mentira.

Os EUA registram recorrentes e expressivos superávits comerciais em bens e serviços com o Brasil ao longo dos últimos 15 anos, totalizando, neste período, 410 bilhões de dólares em superávit. 

Ou seja, não é sobre economia. É sobre geopolítica. 

E quando a ideologia substitui a lógica nos acordos comerciais, não adianta se você votou em A ou em B, são os empresários que pagam a conta.

A conta chegou. E ela é bilionária.

Os setores mais afetados pela tarifa de 50% são também os mais simbólicos do Brasil no exterior:

  • Carnes bovina e suína
  • Café e suco de laranja
  • Soja, milho e óleo de soja
  • Aço, alumínio e papel
  • Carros, aviação e máquinas agrícolas
  • Petróleo e derivados

É a espinha dorsal da exportação brasileira que está sendo alvejada.

Mas é importante olhar, também, para quanto representa, percentualmente, os EUA nas exportações brasileiras, antes de cair em narrativas políticas.

Adeptos do apocalipse vendem a ideia de que “é o fim do Brasil”. Será?

Negacionistas do perigo dizem que os EUA é só mais um comprador na fila do pão. Será?

A verdade é que as exportações pros Estados Unidos representam cerca de 12% das exportações brasileiras, com impacto de menos de 2% no PIB. 

A China é a top1 do ranking, com cerca de 30% das exportações. 

Ou seja, se a carta fosse em mandarim e não em inglês, o estrago seria muito maior.

A reação do mercado

Executivos do setor calçadista, por exemplo, disseram que a medida “é um balde de água fria”, justo quando o setor começava a recuperar mercado nos EUA. A ABIT e a CNI alertam para efeitos severos em empregos, cadeias produtivas e investimentos. A Firjan fala em isolamento comercial e perda de credibilidade.

O silêncio constrangedor das lideranças

O tarifaço escancarou um problema que é menos americano e mais nosso: a dependência estratégica do Brasil de relações que ele não sabe como proteger — nem pela diplomacia, nem pela governança.

Enquanto o foco estava em embates internos, o Brasil se tornou um parceiro previsível, mas não confiável. E quando os mercados nos olham com desconfiança, o capital simplesmente vai embora. 

O tarifaço não é só uma punição — é um alerta.

E agora?

O governo reagiu com firmeza: devolveu a carta, anunciou que poderá usar a Lei de Reciprocidade Econômica e convocou reuniões com Alckmin, Haddad e Mauro Vieira. Mas nos bastidores, o que se espera é diplomacia ativa, e não bravata.

Lideranças empresariais, por sua vez, estão divididas:

  • Uns culpam Lula, por criar tensões institucionais.
  • Outros culpam Bolsonaro, por ser o motivo da represália.
  • Mas poucos assumem que o setor privado brasileiro ainda é frágil na construção de pactos internacionais consistentes.

Quatro pontos que precisam ser ditos, goste você ou não:

  1. Não há narrativa de vitória possível quando mercados nacionais perdem acesso ao mercado americano.
  2. O mundo vê o comércio como política — e o Brasil ainda insiste em tratá-lo como protocolo.
  3. Não é sobre Bolsonaro ou Lula. É sobre a nossa incapacidade crônica de ter uma estratégia de Estado para o comércio exterior.
  4. Essa talvez seja a maior das verdades: ninguém está imune às ameaças um tanto quanto egocêntricas de Trump. Nem mesmo Elon Musk, que transita entre apoiador e ex-apoiador.
     

Fato é que o mercado não está interessado em narrativas. Ele quer estabilidade, previsibilidade e acesso.

A fatura do descompromisso com o longo prazo

O tarifaço de Trump talvez nem dure o ciclo eleitoral. Mas seu impacto já está imposto. O maior deles? Executivos finalmente percebendo que o risco político não é mais assunto só de Brasília, é também uma variável de mercado.

Ele deveria estar no seu Planejamento Estratégico. 

Quem lidera empresas globais precisa de conselhos preparados, visão diplomática, leitura de cenário e estratégias adaptativas. 

Do contrário, vai sobrar só retórica enquanto os contratos evaporam.

O que você deveria estar olhando agora:

Não perca tempo viralizando vídeos de políticos. Eles não estão nem aí para os seus negócios. Consumir, compartilhar e debater sobre isso vai gastar a energia que você deveria estar investindo em:

  • Revisar contratos internacionais e reavaliar dependências dos EUA;
  • Olhar para outros mercados e possibilidades. China, União Europeia, Emirados…
  • Intensificar presença em fóruns globais e diplomacia empresarial;
  • Construir reputação institucional ativa, para além de governos de plantão;
  • E, acima de tudo: preparar conselhos e líderes para lidar com o imprevisível.
     

Porque quando a política vira tarifa, o CEO vira o diplomata do seu próprio negócio. 

E o Brasil corporativo, goste ou não, está convocado para esse novo papel.

Fique com isso em mente: a sobrevivência, o lucro, o futuro do seu negócio está cada vez mais da porta para dentro, daquilo que você decide e faz, e menos da porta para fora, daquilo que Brasília pode fazer por você.

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Jornalista e Copywriter. Escreve sobre negócios, tendências de mercado e tecnologia na StartSe.

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