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Pressionada com altos custos e pouco caixa, Fluke demite mais de 80% do quadro e é comprada

A operadora virtual toma medidas drásticas para sobreviver. Confira a análise!

Pressionada com altos custos e pouco caixa, Fluke demite mais de 80% do quadro e é comprada

Fluke (Divulgação)

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 Em uma demonstração de como a atual correção no universo das startups está afetando não só as grandes empresas, a operadora virtual Fluke fez um corte de mais de 80% na sua força de trabalho para conseguir se manter. Além disso, a empresa está para fechar sua aquisição por um player do setor de telecomunicações como parte deste movimento de sobrevivência.

Em junho deste ano, a empresa, que fornece planos de celular sem amarras, falou sobre seus planos de crescimento, e disse que não tinha intenções de enxugar a folha de pagamento. “Estou liderando uma empresa com quase 100 pessoas, que confiam em mim para garantir que elas terão seu salário no mês seguinte, num contexto em que tantas empresas estão fazendo demissões e outras estão fechando as portas”, disse Marcos Oliveira, CEO da Fluke, à época.

No entanto, a situação mudou drasticamente nas últimas semanas. Dos 101 profissionais que a empresa empregava, restaram somente 18 pessoas. A maioria dos funcionários remanescentes atuam na área de atendimento ao cliente, um número considerado mínimo para manter a operação rodando. A última onda de cortes aconteceu na semana passada, quando a empresa ainda tinha 78 pessoas no quadro.

Em entrevista ao Startups, Marcos disse que a empresa tentou múltiplos caminhos para evitar as demissões, que incluíram uma captação e a prestação de serviços para outras empresas, que se mostrou insuficiente para fazer a conta fechar. “Estávamos muito pressionados em relação ao caixa e o único caminho foi [reduzir o quadro]. Fomos muito transparentes com o time: as pessoas não foram pegas de surpresa e já sabiam das dificuldades que estávamos passando”, pontua.

Marcos diz que o time de fundadores – que inclui Augusto Pinheiro, Vinícius Akio e Yuki Watanabe – fez um trabalho proativo para recolocar uma grande parte das pessoas que a startup desligou. Segundo o CEO, cerca de 50% dos demitidos foram para uma operadora de internet banda larga, telefonia fixa e TV por assinatura, enquanto uma parte do restante foi pulverizada entre outras empresas.

Questionado se sentia o dever de tentar achar novas oportunidades para o máximo de pessoas possível, Marcos diz que esta foi uma forma de reconhecer a contribuição dos ex-funcionários. “Infelizmente, a gente não conseguiu frear antes de parar no muro, mas essas pessoas acreditaram no nosso sonho e continuaram com a gente, mesmo nos momentos difíceis. Dói muito ver o pessoal se separando”, aponta.

 Expectativa vs realidade

Como parte do movimento de sobrevivência, a Fluke terá um novo dono, uma empresa do setor de telecomunicações cujo nome Marcos não revelou, mas deve ser anunciado em breve. A empresa já assumiu algumas das contas da startup, e deve ficar com a quase totalidade do capital. Segundo o CEO da Fluke, a empresa vai continuar a existir de forma independente mesmo depois da aquisição.

“Não vamos quebrar, morrer ou virar outra coisa. Dezenas de milhares de pessoas usam o nosso serviço diariamente, conseguimos manter nosso NPS na faixa de 70 pontos, e essas são coisas que vamos manter”, ressalta o empreendedor, acrescentando que a Fluke também deve anunciar aos clientes um aumento nas tarifas de cerca de 20%. “O principal objetivo agora é manter o serviço para os clientes que temos na base, fazer os devidos ajustes de economics para poder empatar [os custos com a receita] e voltar a crescer.”

Mas esse movimento em nada se parece com o que os fundadores tinham imaginado para a operadora virtual. “Meu plano era tocar o sino da Nasdaq daqui a alguns anos. Ninguém se prepara para fazer um movimento assim, ou acha que está sonhando grande o suficiente. Essa fusão é uma forma de manter o sonho grande”, desabafa Marcos, acrescentando que a captação de recursos, que era necessária para manter o ritmo de crescimento previsto para a empresa, teve uma série de intercorrências.

No começo do ano, a Fluke tinha como certo que iria fechar uma robusta Série A, e recebeu um termsheet de um fundo internacional com operações no Brasil. Por mais que a oferta fosse não-vinculante, a startup considerou que o processo de diligência seria relativamente simples e logo o dinheiro estaria na conta.

Nesse meio tempo, a operadora seguiu crescendo, e mais que triplicou a base de clientes entre janeiro e junho. Só que em maio, o cenário para a captação de investimentos começou a ficar mais complexo e o investidor puxou o termsheet de volta. “Depois que isso aconteceu, fizemos uma nova ronda entre VCs, mas tínhamos pouco tempo [de runway] e além das condições macroeconômicas instáveis, tivemos um ponto específico que dificultou muito nosso processo de captação, que é a questão dos preços de atacado que pagamos para as operadoras”, diz Marcos.

Segundo o CEO da Fluke, que usa a rede da Vivo, cerca de 93% do que a startup fatura cobre os custos de rede. Isso significa que a startup fica com aproximadamente 7% da receita para cobrir suas outras despesas, incluindo a folha de pagamento.

Apesar de ter uma operação onerosa, a startup também estava otimista em relação à concretização das melhorias relacionadas à melhorias para os preços cobrados pelas teles. Mas as novas regras do acordo assinado pelas operadoras com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que reduziriam o custo da Fluke em cerca de 25%, ainda estão longe de se manifestarem na prática.

Aprendizados e erros

Ao refletir sobre as lições aprendidas ao longo dos últimos meses, Marcos ressalta que tanto ele quanto os demais fundadores buscaram um grande problema (no caso, descomplicar a telefonia móvel no Brasil) para ter o que aprender por muito tempo. “Não tenho dúvidas de que nesses últimos meses difíceis, aprendi muito mais do que nos meses confortáveis. Isso vale para cada founder em sua respectiva área e vamos seguir aprendendo agora nesse novo movimento”, diz o CEO.

Ainda sobre aspectos positivos em meio às dificuldades enfrentadas, o empreendedor ressalta que o time fundador da Fluke é muito jovem (todos tem, no máximo, 25 anos de idade), e muito chão pela frente, já acumulando uma bagagem importante. “Ainda temos muita energia para trabalhar e reconstruir as coisas. Por outro lado, a gente também vai errar numa frequência maior do que erraria alguém que tem o dobro ou o triplo de experiência”, aponta.

Um destes possíveis erros é não ter feito uma rodada nos tempos de bonança, em específico quando a startup participou da prestigiosa aceleração da Y Combinator, no ano passado. “Tínhamos condições de levantar uma grana legal, mas tomamos a decisão de esperar um pouco mais para captar a Série A. Essa é uma das coisas que a gente teria feito diferente, dada o fato de que havia disponibilidade de capital e gente interessada: talvez teríamos nos preocupado menos com diluição naquele momento e [com mais capital] teríamos um conforto para fazer as coisas”, analisa.

Para os próximos seis meses, a Fluke deve seguir sem fazer contratações e o objetivo será manter a empresa rodando, apesar dos desafios pessoais que as mudanças recentes impuseram. “Durante os últimos cinco anos e meio das nossas vidas, acordamos e dormimos pensando na Fluke e nunca nos imaginamos fazendo outra coisa. Nesse momento, meu foco total é em seguir construindo essa empresa”, conclui.

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