Depois de combater e processar — inclusive ações legais contra outras IAs por uso de seus personagens — a Disney agora entra com US$ 1 bilhão na OpenAI e abre seu acervo de personagens para o Sora. O que mudou no relacionamento entre criatividade protegida e inteligência artificial?
Disney + OpenAI: o futuro do entretenimento.
, redator(a) da StartSe
7 min
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11 dez 2025
•
Atualizado: 11 dez 2025
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A Walt Disney Company acaba de anunciar um acordo histórico: vai investir US$ 1 bilhão na OpenAI, tornando-se parceira estratégica da startup por três anos para licenciar mais de 200 dos seus personagens icônicos — de Mickey Mouse a Darth Vader — na plataforma de geração de vídeos por IA chamada Sora.
O acordo vai além de simples licenciamento. A Disney receberá warrants para comprar ações adicionais enquanto a OpenAI terá direitos exclusivos de usar parte do catálogo de personagens em produtos como o Sora e o ChatGPT Images, com conteúdo gerado por usuários previsto para estrear no início de 2026.
Até aqui, nada de estranho — até lembrarmos que, há alguns meses, a Disney estava na linha de frente da guerra contra a IA que usava seu conteúdo sem permissão.
Em junho de 2025, a Disney e a Universal lançaram uma ação contra a startup de IA Midjourney, acusando-a de violar direitos autorais ao gerar imagens que replicavam personagens protegidos sem licença.
A empresa deixou claro que “pirataria é pirataria, e o fato de ser feita por uma IA não a torna menos infratora”. Esse movimento marcou o início de uma ofensiva jurídica sem precedentes por grandes estúdios contra a tecnologia generativa de IA, no que foi interpretado como um embate direto entre proteção de propriedade intelectual e inovação tecnológica.
Além disso, a Disney chegou a bloquear o uso de sua propriedade intelectual no Sora da própria OpenAI em outubro de 2025, apoiando críticas de agências de talentos de Hollywood que chamaram a ferramenta de “risco significativo” aos direitos artísticos.
E, no meio disso tudo, a empresa também enviou cartas de cease and desist a outros gigantes, como o Google, por alegadas infrações de copyright envolvendo personagens — reforçando que não toleraria uso comercial de seus universos sem autorização.
A resposta está na dura realidade do mercado:
Em um mundo onde IA generativa se torna padrão em produtos de criação e engajamento digital, ficar fora desta onda pode significar perder relevância cultural e econômica.
Para competir, a Disney precisa ter voz na definição de padrões, não apenas reagir a eles.
Licenciar ou co-desenvolver experiências interativas com personagens pode abrir novas linhas de receita e engajamento para públicos que já consomem conteúdo gerado por IA.
Bob Iger, CEO da Disney, sintetizou bem essa lógica ao afirmar que a tecnologia deve respeitar “criadores e suas obras”, mas também pode “estender de forma criteriosa a narrativa da Disney ao mundo”.
O acordo não é apenas sobre vídeos gerados por IA. Ele também coloca a Disney como:
cliente da OpenAI, usando APIs e ferramentas como o ChatGPT para construir novos recursos no Disney+ e para uso interno.
definidora de práticas responsáveis de IA na indústria, com planos explícitos de bloquear conteúdo ilegal ou prejudicial e proteger a voz e a imagem de talentos associados.
É uma estratégia que transforma uma postura defensiva — baseada em litígios e bloqueios — em uma postura de cooperação ativa, moldando como IA vai interagir com conteúdo protegido daqui para frente.
A história entre Disney e OpenAI é, em muitos aspectos, um espelho do que acontece no ecossistema de IA em geral:
Empresas de entretenimento não podem mais ignorar a IA — nem simplesmente combatê-la.
Direitos autorais e inovação precisam ser reconciliados, não colocados em trincheiras opostas.
A cooperação pode ser mais lucrativa do que a luta judicial — especialmente quando se trata de experiências interativas com consumidores.
No fim, a grande provocação fica no ar:
se um dos maiores protetores de propriedade intelectual do mundo pode mudar de tática e investir pesado na IA que antes criticava, o que isso significa para o resto da indústria — e para a própria criatividade humana?
A resposta, assim como o acordo Disney-OpenAI, pode ser só o começo de uma nova era de alianças improváveis e fronteiras intelectuais ainda por definir.
A decisão da Disney é uma prova de ambidestria na gestão dos negócios: quando você lê os sinais de que aquilo que você repelia está se tornando inevitável, junte-se antes de cair na irrelevância.
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Jornalista e Copywriter. Escreve sobre negócios, tendências de mercado e tecnologia na StartSe.
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