RecargaPay quer ser financeira e mira em 'usuários transacionais'
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4 min
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28 mai 2024
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Atualizado: 3 ago 2024
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Em 14 anos de história, a RecargaPay seguiu à risca algumas características da cartilha das fintechs que apostaram em carteiras ou contas digitais para pessoas físicas e pequenas empresas no Brasil. Uma delas foi iniciar “monoproduto” (recargas de celular) e avançar para um portfólio maior de produtos e serviços, incluindo pagamentos e crédito — a novidade mais recente é um cartão de crédito limite garantido.
Outro caminho em comum com alguns de seus principais concorrentes, como Mercado Pago e PicPay, é evoluir as licenças regulatórias conforme o negócio cresce. Hoje, a empresa opera como instituição de pagamento (IP) e possui uma Sociedade de Crédito Direto (SCD), mas já entrou com um pedido junto ao Banco Central (BC) para atuar como financeira, revela Diego Escobar, CFO da RecargaPay, em conversa com o Finsiders Brasil.
Mas a empresa fundada em Buenos Aires, na Argentina, também fugiu à “regra” ao não formar uma base de dezenas de milhões de clientes, ao contrário de seus principais competidores. “Me parece que pode haver um crescimento irresponsável quando se paga muito alto por aquisição de usuários que não têm demostrado que vão transacionar no seu aplicativo. Nossos usuários são transacionais, e a maioria vem de forma orgânica”, afirma Diego.
A fintech diz ter 7 milhões de clientes, porém, não abre quantos são ativos. Pesquisa recente do Bank of America (BofA) indica que a RecargaPay reúne pouco mais de 1,33 milhão de usuários ativos mensais, quantidade que vem crescendo nos últimos meses. Questionada, a empresa argumenta ter números diferentes dos apresentados no relatório. “Além disso, esses dados mostram uma proporção crescente e muito saudável de usuários ativos, o que significa que o engajamento está aumentando continuamente entre nossos clientes.”
De acordo com o CFO, a RecargaPay atingiu o Ebitda positivo no fim de 2022 e esse indicador seguiu crescendo ao longo do ano passado. Sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, o Ebitda mede o potencial de geração de caixa operacional. Em 2023, a fintech não só atingiu o breakeven (equilíbrio financeiro) como avançou para um balanço azul com lucro líquido de US$ 10 milhões. “Estamos no ritmo de crescimento sustentável há pelo menos quatro anos.”
O resultado positivo, diz Diego, é fruto da diversificação de receitas, com a ampliação do que a RecargaPay chama de ecossistema financeiro. Em 2023, as receitas somaram US$ 200 milhões — cerca de 10 anos atrás, eram pouco mais de US$ 5 milhões e bastante dependentes de recargas de celular, relembra o CFO. Em 2015, por exemplo, o serviço movimentava US$ 30 milhões por ano. Agora, representa menos de 1% do volume total de pagamentos (TPV) da empresa, que supera US$ 4 bilhões anualmente.
Atualmente, o aplicativo permite, por exemplo, consolidar dados de cartões de crédito e débito, pagar contas e tomar empréstimos. Mas dá para dizer que a recarga de bilhetes de transporte público, como o Bilhete Único, foi o “divisor de águas” da fintech. “Quando você entra em transportes, acessa uma diversidade geográfica e diferentes pontos de audiência. Estamos atualmente em mais de 60 cidades brasileiras, e nossa penetração está crescendo”, conta o CFO.
Nessa direção para se consolidar como um super app de pagamentos, a RecargaPay viu no Pix também uma oportunidade de desenvolvimento de novas soluções. “Para nós, o Pix foi um ‘game changer’. Fomos rápidos em incorporar casos de uso a partir do Pix”, crava o CFO. Um deles, cita o executivo, é o Pix parcelado em até 12 vezes usando cartão de crédito.
Por falar em cartão de crédito, a empresa acaba de lançar esse produto com limite garantido. O valor liberado em limite depende da quantia que o cliente tem depositado na conta da fintech. Além do rendimento da conta a 103% do CDI, o cartão terá cashback de 1,5% em todas as compras. Inicialmente, o produto será para usuários pessoas físicas, mas a RecargaPay já estuda oferecer para seus clientes pessoas jurídicas — microempreendedores e pequenos negócios.
A fintech enxerga, ainda, espaço para agregar outros benefícios e funcionalidades ao cartão de crédito. “Não posso divulgar mais detalhes agora, mas podemos ser um player que oferece diferentes propostas de valor com cartão de crédito porque conhecemos nossos usuários e como eles gastam”, afirma o CFO.
Sobre os atuais produtos de crédito, o executivo diz que a inadimplência é controlada. O foco está em operações com tíquetes baixos e de prazos curtos. A RecargaPay realiza, em média, 200 mil empréstimos por mês. A empresa também não abre o tamanho da carteira de crédito.
Também na contramão dos concorrentes e das maiores fintechs, a RecargaPay recebeu um volume relativamente pequeno em investimentos ao longo de sua jornada. Desde 2010, a fintech levantou US$ 118,6 milhões, conforme dados no Crunchbase. O último aporte, de US$ 10 milhões, veio em outubro de 2021, como uma extensão de um cheque de US$ 70 milhões em março do mesmo ano.
O CFO não descarta uma nova captação de recursos entre o segundo semestre deste ano e o início do próximo. “Estamos no nosso próprio crescimento sustentável, porque é mais fácil conseguir dinheiro quando não precisa dele. É o nosso caso. Temos recebido ofertas, mas podemos ou não aceitar”, afirma Diego.
Perguntado sobre os planos para um futuro IPO, o executivo argumenta que a companhia precisaria ser maior do que é agora para tomar essa decisão. Apesar de ainda não estar na hora, o CFO diz que a empresa já faz todos os controles necessários, reportes financeiros e acaba de concluir a auditoria com uma das ‘big four’. “Estamos prontos.”
*Conteúdo originalmente publicado no Finsiders Brasil, site parceiro do Startups
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