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Por que fundadores latinos retomam o otimismo

Relatório do Atlântico indica que otimismo saltou 5 vezes. Capital disponível e menos competição por talentos ajudam a explicar

Por que fundadores latinos retomam o otimismo

Pessoas conversando no escritório (Foto: via Canva)

, conteúdo exclusivo

9 min

30 ago 2023

Atualizado: 30 ago 2023

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Por Gustavo Brigatto

Fundadores e profissionais de tecnologia da América Latina estão mais otimistas com as perspectivas do que está por vir. 

  • O otimismo saltou 5 vezes na comparação com o ano passado, segundo o Digital Transformation Report, da gestora Atlântico.
     
  • No levantamento publicado em 2022, só 8% dos respondentes se disseram otimistas com o ano seguinte. 
     
  • Na edição mais atual, o percentual chegou a 44%. Também aumentou a fatia de quem está entusiasmado, saindo de 31% para 46%. 
     
  • Na outra ponta, a quantidade de pessoas que se diz cautelosa encolheu um pouco, saindo de 57% para 48%.

O QUE ACONTECEU?

Essa renovação do espírito empreendedor, como a Atlântico chamou, acontece depois de fortes ajustes feitos por startups e scaleups desde o começo do ano passado – 74% das empresas disse ter demitido nos últimos 18 meses e 40% têm menos funcionários do que há 1 ano -, e de uma aparente estabilização no volume de investimentos nos patamares de 2019, com US$ 1 bilhão em investimentos por trimestre.


“Os números mostram algo que já sentíamos de forma qualitativa. Cortes de custos, ajustes e encontrar um crescimento sustentável eram os assuntos principais há pouco tempo. Agora, os temas de crescimento voltaram para o topo da lista das reuniões de conselho das nossas investidas e dos unicórnios da América Latina, com a preparação para potencias exits e a conversas de IPO voltando”, conta Ana Martins, sócia da Atlântico.  

Ela lembra que o mercado de venture capital na América Latina teve um ritmo de crescimento mais acelerado que o de outras regiões entre 2020 e 2021, por isso, a desaceleração também veio mais forte. 

No 2º trimestre, o tombo na região foi de 65% na comparação com o mesmo período do ano passado. 

No mundo, o recuo foi de 49%. Olhando um pouco mais para trás, em relação a 2021, o enxugamento foi de 80% na América Latina e de 61% no mundo com um todo.

Segundo ela, a ideia de fazer uma rodada com valor de mercado igual ao de uma captação anterior (flat round) ou mesmo com valor menor (downround), já está se tornando algo mais aceitável na medida que os investidores olhando os números das companhias com mais atenção. 

“Mas o mercado funciona assim. O valor das companhias públicas varia o tempo todo. Não é porque uma empresa fechada não tem a cotação em tempo real que não existe volatilidade. Isso não é necessariamente um sinal de fracasso. 

  • Se o preço de maximizar o potencial futuro de uma companhia é fazer um downround agora, então que seja”, avalia Ana.

Razões para acreditar

A volta da esperança se baseia na disponibilidade de capital, mesmo que não tão fácil quanto na história recente, na maior facilidade de contratar pessoas já que a competição por talentos arrefeceu, e também premissa de que a América Latina avançou na sua transformação digital nos últimos anos, mas ainda há muito espaço para crescimento

Com 600 milhões de pessoas e um PIB de US$ 6 trilhões, a região apresenta as conhecidas oportunidades nas áreas de educação e saúde (eu ouvi mais edtechs e healthtechs?), e poderá se aproveitar da tendência de transição para energias limpas por conta da demanda por minérios abundantes por aqui, como lítio, cobre, prata e níquel (olha as cleantechs aí gente). 

  • O papel de exportador de alimentos também tende a crescer, reforçando a demanda no setor agrícola (vai uma agtech pra acompanhar?).

No relatório, a Atlântico destaca um recente movimento de desenvolvimento de ferramentas que atendem especificamente as demandas dos pequenos e médios negócios, que representam 98% das empresas da região. 

Isso sem falar nas iniciativas de digitalização do dinheiro, como o Pix e DREX (o nome horrendo que o Banco Central deu para o Real digital).   

Pra não dizer que não falei da IA


Como não podia deixar de ser, o relatório de 2023 da Atlântico tem a inteligência artificial como um de seus principais tópicos. A gestora embarcou no hype, digo, se aprofundou no tema, para entender como está o mercado, mas também em benefício próprio.

Ao longo do relatório, os textos que explicam cada segmento foram criados por plataformas como o Bard, do Google, e o ChatGPT como se tivessem sido escritos por escritos latinos Gabriel Garcia Márquez, Pablo Neruda Isabel Allende, Clarice Lispector e também Tom Jobim. 

As imagens que ilustram o material também foram geradas no estilo de artistas da região. Diego Rivera, Vik Muniz (que aliás, estampa esta matéria), Fernando Botero, Frida Kahlo e até os grafiteiros Os Gêmeos foram inspirações. 

“A gente nunca tinha colocado imagens por conta de direitos autorais. Agora conseguimos fazer”, conta Ana.

  • Ela destaca que, como segmento, a área da Inteligência Artificial ainda se encontra em um estágio muito inicial de desenvolvimento tanto no mundo quanto na América Latina. 

“O momento é parecido com o pós-lançamento do iPhone. São os primórdios, a ponta do iceberg. Estamos brincando para entender como isso funciona. Ainda é muito cedo para medir ou saber os impactos”, diz a investidora, que adiciona que, apesar disso, há uma animação e um interesse forte da Atlântico – e de qualquer outro VC, vamos ser honestos – pelo assunto.

Curiosamente, no relatório do ano passado, a gestora também mostrou muito interesse sobre um outro tema: cripto. No material de 2023, o assunto não é abordado em nenhum momento. 

“A gente não sabia o que existia e resolveu olhar. O que descobrimos é que estav muito cedo ainda. Pouco maduro, com alguns casos de uso relevantes e muito hype. Por isso decidimos não avançar”, explica Ana. 

De acordo com ela, com IA é diferente porque ela é um “martelo” com diferentes pregos que podem ser batidos.  

Vamos ver o que dirá o relatório de 2024.

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