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4 min
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5 ago 2024
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Atualizado: 7 ago 2024
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O engenheiro de biotecnologia chileno Hans Pieringer é fascinado por ciência desde criança. Na faculdade, começou a estudar os bacteriófagos (ou fagos), vírus capazes de eliminar bactérias multirresistentes, e o potencial desses microrganismos para melhorar o bem-estar e a saúde animal.
Essa trajetória o levou a criar a PhageLab, startup que combina ciência e tecnologia para desenvolver soluções eficazes que ajudam a combater a crise de multirresistência a antibióticos.
Fundada em 2010 no Chile e com operação focada no Brasil, a biotech é hoje uma das maiores produtoras de fagos do mundo, atuando no setor agroindustrial para combater zoonoses como Salmonella e Escherichia coli (E.coli).
Ao trabalhar na prevenção das doenças e na redução do uso de antibióticos na produção de aves e bezerros, a PhageLab contribui para a promoção da Saúde Única, da saúde e do bem-estar animal até a chegada das carnes às mesas, garantindo uma maior segurança alimentar para milhões de pessoas ao redor do mundo.
Na prática, isso é possível graças a uma plataforma proprietária que usa inteligência artificial e machine learning para analisar as mais de 6 mil bactérias do catálogo da PhageLab e cruzar essas informações com os mais de 800 fagos sob medida disponíveis para uso em campo no Brasil.
"Temos um algoritmo baseado em bioinformática que nos ajuda a escolher quais fagos utilizar para eliminar determinadas bactérias. Assim, aceleramos o desenvolvimento dos produtos em comparação com a indústria tradicional", afirma Pablo Cifuentes, CTO da PhageLab, em entrevista ao Startups.
A startup vem sendo referência em inovação e sucesso no controle de bactérias, e em 2024 foi eleita uma das 100 startups pioneiras em tecnologia pelo Fórum Econômico Mundial.
Pablo Cifuentes, CTO da PhageLab (Foto: Divulgação)
Segundo o especialista, o uso da tecnologia permite que a companhia desenvolva produtos para a saúde animal de maneira precisa e em tempo recorde, diagnóstico até a recomendação do tratamento com fagos. A PhageLab consegue criar o produto em apenas 30 dias, enquanto a indústria tradicional pode demorar cerca de 11 anos para desenvolver um antibiótico, entre a produção e o lançamento no mercado. Ele acrescenta que a produção em larga escala da startup é capaz de atender a uma porcentagem relevante do mercado brasileiro.
A startup está constantemente aperfeiçoando sua tecnologia para levar mais velocidade e eficiência ao processo. Inicialmente, o desenvolvimento dos produtos da PhageLab levava cerca de dois anos. Em janeiro de 2024, a média era de 45 dias. Recentemente, a startup reduziu o tempo do processo em mais de 30% em relação ao início do ano, com uma eficácia de 93% no tratamento.
A meta para os próximos anos é bastante ambiciosa. A PhageLab prevê que, até 2025, o algoritmo combinado ao aprendizado de máquina seja capaz de oferecer a solução específica para o tratamento em apenas uma semana. Em 2026, o processo será feito em apenas um dia. "Temos um plano de desenvolvimento. As bactérias estão em constante mudança, então a ideia é trabalharmos em parceria contínua com os clientes para que, à medida que o ambiente das granjas e da criação de animais mude, a PhageLab possa atualizar seus produtos também", explica Sabrina Torgan, CFO da startup.
O aumento da capacidade de análise e processamento de dados será impulsionado pelo avanço da PhageLab pelo Brasil. A biotech atua em campo coletando dados específicos de cada região produtora e trabalha com empresas que representam 60% do mercado avícola nacional, essa tecnologia também avança. De acordo com Sabrina, o perfil de clientes da PhageLab é composto principalmente por grandes produtores de carne e proteína animal localizados, em sua maioria, na região sul do país.
Sabrina Torgan, CFO da PhageLab (Foto: Divulgação)
O CTO da PhageLab, Pablo Cifuentes, destaca que o potencial da tecnologia da startup é ainda maior do que o conquistado até então. "Os fagos podem ser utilizados para eliminar basicamente qualquer bactéria. Embora hoje nosso foco seja as bactérias que geram problemas de alto impacto na indústria, como Salmonella e E.coli, nossa plataforma é agnóstica. Temos o potencial de gerar uma solução com base em fagos para qualquer bactéria que entre no banco de dados. E quanto mais bactérias mapeamos, mais o algoritmo aprende", pontua.
Além de criar uma solução capaz de eliminar bactérias multirresistentes, a PhageLab reúne dados e informações sobre esses organismos. Onde estão, quais suas origens, a que são resistentes, se resistem a antibióticos e desinfetantes e até se as vacinas atuais já são capazes de proteger animais e humanos. "Todas essas informações são novas para os clientes, e a partir delas nossos clientes podem tomar decisões de alto valor para gerar melhores resultados", afirma Pablo.
A proposta atraiu investidores globais como Kevin Efrusy, um dos primeiros a investir no Facebook, além de Groupon, Elo7 (adquirida pela Etsy), Zup (adquirida pelo Itaú), Gympass e QuintoAndar. O executivo participou da extensão da série A da PhageLab, anunciada no início. A rodada de US$ 11 milhões também contou com a participação da empresa de cosméticos Nazca e das firmas de capital de risco Collaborative Fund e Water Lemon Ventures. Segundo a CFO da startup, Kaszek e Humboldt também estão entre os investidores da biotech.
"Estamos começando a trabalhar para a rodada B, que deve ocorrer entre fim de 2024 e o início de 2025, com foco no crescimento no mercado brasileiro. Embora a gente estude outros países e mercados, o Brasil é um mercado gigantesco e nosso foco total nesse momento", diz Sabrina. Ela conta que, com os recursos captados, o plano é estabelecer um laboratório e uma fábrica em solo brasileiro. A startup já tem um laboratório e uma fábrica em Santiago, ambos no Centro de Inovação da Universidade Católica do Chile.
"A prioridade é trabalhar para atender o maior número possível de clientes no Brasil", destaca Sabrina. Em 2024, a PhageLab opera com uma capacidade produtiva anual para tratar 590 milhões de frangos."O objetivo da empresa não é só fazer o trabalho técnico junto aos clientes, mas também ajudar na grande missão de sustentabilidade dos grandes produtores de proteína animal", pontua a CFO.
Laboratório da PhageLab no Chile (Foto: Divulgação)
"Há três anos, quando começamos a falar disso no Brasil, os fagos eram ainda mais desconhecidos na indústria, embora nem tanto no meio acadêmico. Havia poucos produtos e empresas focadas nisso. A gente vem desbravando os desafios, apresentando a tecnologia e como unimos o potencial dos fagos com a inteligência artificial. É um trabalho de evangelização, ensinando aos clientes como funciona a nossa tecnologia", observa Sabrina.
A executiva destaca que, a nível nacional, um grande desafio é a aprovação regulatória. "São produtos novos e inovadores. A legislação mundial vem sendo simplificada para a aprovação de produtos com base em fagos, então é algo que o Brasil vem trabalhando, e aprendemos os caminhos para atuar nesse setor junto com o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e para a aprovação regulatória", explica.
Como oportunidades do mercado, Pablo destaca que os brasileiros são early-adopters de tecnologia - ou seja, adotam a inovação muito rapidamente. "A indústria de produção de carne é tradicional, mas, diferentemente de outros mercados, no Brasil é muito aberta a inovar Temos a evidência de que os produtos funcionam, então as empresas têm aberto mais portas para este tipo de tecnologia. Em termos regulatórios, o MAPA também tem sido muito aberto, apesar de a regulação ser dura. Eles estão buscando formas de abrir o mercado para novas soluções que permitam resolver os problemas do mercado", pontua Pablo.
Atualmente, a PhageLab tem dois produtos aprovados pelo MAPA no Brasil - o Inspektor para combater a Salmonella e Fórmida para combater a E.coli. "Vamos seguir nos posicionando como uma empresa de biotecnologia que gera conhecimento científico e, assim, soluções eficazes para os clientes", finaliza o CTO.
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