A guinada radical de Mark Zuckerberg, que deixa para trás o discurso do open source e abraça um modelo proprietário treinado no Qwen da Alibaba, expõe tensões internas, abala o ecossistema de IA e coloca China e EUA no mesmo tabuleiro tecnológico.
Mark Zuckerberg, dono do Facebook (Foto: Anthony Quintano/Flickr)
, redator(a) da StartSe
7 min
•
10 dez 2025
•
Atualizado: 10 dez 2025
newsletter
Start Seu dia:
A Newsletter do AGORA!
O ponto de partida desta história não é apenas a Meta lançar um novo modelo.
É algo maior: a derrocada de uma estratégia inteira.
Depois de anos defendendo que modelos abertos eram o futuro da IA — e de construir sua reputação em cima das linhas do Llama — Mark Zuckerberg acaba de puxar o freio de mão e virar na direção oposta. O novo modelo fechado, codinome “Avocado”, está previsto para 2026 e marca uma ruptura total com o legado recente da empresa.
A justificativa nos bastidores?
O lançamento de Llama 4, em abril de 2025, decepcionou profundamente o mercado. Benchmarks fracos, críticas da comunidade e até suspeitas de que a Meta havia testado publicamente uma versão superior à que disponibilizou para download colocaram a empresa na berlinda.
A consequência: reestruturação, demissões veladas e um Zuckerberg cada vez mais controlador sobre o destino da IA dentro da empresa.
E aqui entra a reviravolta geopolítica.
Segundo a Bloomberg, o grupo TBD Lab da Meta está incorporando ao treinamento do Avocado vários modelos externos — incluindo o Qwen, da Alibaba, um dos sistemas mais avançados produzidos pela China.
A reação do mercado foi imediata:
Meta: –1,2% nas ações
Alibaba: +2%
Mas a reação política pode ser ainda maior.
Por anos, Zuckerberg criticou o uso de modelos chineses alegando riscos de censura estatal e “influência ideológica”. Agora, por necessidade técnica ou pragmatismo competitivo, a Meta está treinando seu novo modelo com IA chinesa — um movimento impensável há poucos anos.
É a confirmação de uma nova realidade: a fronteira tecnológica entre EUA e China é permeável quando a necessidade de competitividade fala mais alto.
Essa mudança de rota teve efeitos profundos dentro da Meta.
O recém-criado Laboratório de Superinteligência agora é liderado por Alexandr Wang, fundador da Scale AI, que entrou na empresa após um acordo gigantesco de US$ 14,3 bilhões. Relatos indicam que Wang está frustrado com o microgerenciamento de Zuckerberg, que acompanha cada decisão técnica e cada pivot estratégico.
O clima piorou quando a reorganização colocou Yann LeCun — um dos pais do deep learning e figura histórica da Meta — sob a liderança de Wang.
LeCun pediu demissão semanas depois e lançará sua própria startup ainda em 2025.
Do lado técnico, o Avocado também enfrenta obstáculos. Originalmente previsto para o fim de 2025, o projeto foi empurrado para início de 2026, pressionado por desafios de desempenho e treinamento.
A Meta aumentou sua previsão de CAPEX para 2025 para um patamar assustador: US$ 70 a 72 bilhões.
Por quê?
Porque está tentando alcançar duas forças que hoje puxam o setor:
Google, com o avanço agressivo do Gemini e a nova rodada de supermodelos
OpenAI, que se consolidou como padrão ouro de modelos de uso geral
O Avocado é a resposta da Meta para tentar nivelar o jogo — e, curiosamente, isso envolve usar o Qwen, um dos modelos mais fortes do ecossistema chinês.
A guinada da Meta abre três janelas importantes para entender o que vem aí:
Performance, segurança e monetização estão falando mais alto.
A IA é o novo petróleo. E ninguém vence sozinho.
Não se trata mais de pesquisa ou produto.
Trata-se de poder tecnológico global.
Ele representa:
um Zuckerberg menos idealista e mais pragmático,
uma Meta movida por medo de ficar para trás,
e uma China que, silenciosamente, já influencia o núcleo dos modelos usados no Ocidente.
No tabuleiro da IA, a Meta acaba de avançar uma peça que muda o jogo — e ao fazer isso, escancara que a disputa entre EUA e China não é binária.
É interdependente.
Competitiva.
E inevitável.
A corrida pela superinteligência está apenas começando — e agora tem “Avocado com tempero chinês” no cardápio.
Gostou deste conteúdo? Deixa que a gente te avisa quando surgirem assuntos relacionados!
Assuntos relacionados
redator(a) da Startse
Jornalista e Copywriter. Escreve sobre negócios, tendências de mercado e tecnologia na StartSe.
Leia o próximo artigo
newsletter
Start Seu dia:
A Newsletter do AGORA!