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Os novos desafios do corporate venture capital

O corporate venture capital (CVC) é uma das estratégias de inovação aberta que mais vem crescendo nos últimos anos

Os novos desafios do corporate venture capital

Homem segurando lâmpada acesa (Foto: Canva)

, Produtora de Conteúdo

8 min

23 jul 2022

Atualizado: 5 jun 2023

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Grandes corporações estão indo além das parcerias estratégicas para se aproximar de startups, aumentando os investimentos nessas empresas e, em alguns casos, até criando seus próprios fundos para reforçar esse posicionamento.

Em termos globais, a modalidade cresceu 142% em 2021, atingindo a marca recorde de US$ 169 bilhões investidos, de acordo com o relatório State of CVC, da plataforma norte-americana de inteligência de mercado CB Insights. No Brasil, o volume de aportes de fundos CVC chegou a US$ 622 milhões de janeiro a julho de 2021, triplicando o valor investido em 2020, segundo dados do Distrito.

Só nos últimos meses, grandes organizações brasileiras como B3, Locaweb, Totvs, Renner e Valid lançaram seus veículos de CVC. Juntos, eles somam quase R$ 1,5 bilhão em aportes minoritários para startups de diferentes portes e setores. Por que organizações já estabelecidas querem se aproximar dessas empresas? Inovar por conta própria leva mais tempo – e muito mais recurso. Além de acelerar a cultura de inovação das corporações, as startups também podem ajudá-las a superar desafios tecnológicos, desenvolver novos projetos e dar mais agilidade à operação.

“Por mais capitalizado que você seja e por mais recursos que tenha para investir em pesquisa e desenvolvimento, hoje em dia não dá para ficar restrito a isso em termos de inovação”, afirma Richard Zeiger, sócio da gestora MSW Capital, especializada em corporate venture capital. “O grande benefício do CVC para as grandes empresas é acessar a inovação que ocorre do lado de fora de forma bastante estratégica. Conhecer novos negócios, conviver com empreendedores, acessar mercados, trazer dinamismo e encontrar produtos que podem agregar valor para seu cliente.”

Segundo o executivo, o país vive um momento positivo para o setor, já que as corporações perceberam a importância de investir em inovação aberta e estão começando a entender o potencial do CVC como ferramenta para isso. No entanto, Richard ressalta que a parceria precisa ser vantajosa para os dois lados da moeda. 

“O empreendedor tem que ficar atento para não cair em uma cilada onde a corporação olha para a startup apenas como uma prestadora de serviço. É importante que a transação seja com termos minoritários, não trave a liquidez da startup e não restrinja seu escopo de atuação em termos de exclusividade”, pontua.

No lado das startups, a parceria pode servir como um selo de validação. “Uma empresa reconhecida no mercado legitima o produto das startups, principalmente daquelas que estão início de suas jornadas”, afirma Richard. Além disso, as corporações podem compartilhar expertises, oferecer mentorias, apoiar na governança e conectar a startup com novos clientes.

Peter Seiffert, fundador e presidente da Valetec Capital, gestora dedicada a fundos de CVC, acrescenta que a startup tem a vantagem de receber grandes volumes de investimento para acelerar seu crescimento com contratações, compra de ativos e desenvolvimento de produto. “Este é um movimento sem volta e que só beneficia ambas as partes. Para as startups, um fundo CVC traz acesso a um capital que a permite acelerar projetos, sem contar que abre um novo universo para seus relacionamentos”, explica.

Alternativa durante a crise?

Em um período em que se fala de crise, inverno de investimentos e aversão ao risco, os fundos CVC lançados nos últimos meses mandam uma mensagem clara para o mercado: ainda tem gente interessada em investir e (muito) dinheiro disponível.

Em artigo publicado no Startups, João Gabriel Chebante, especialista em corporate venture do Grupo FCamara, argumenta que a perspectiva real de um longo ciclo de baixa em venture capital possibilita “um posicionamento mais relevante dos fundos e estratégias de corporate venture como investidores e consolidadores do ecossistema”.

Um desses movimentos é o L4 Venture Builder, da B3, que foi lançado em maio deste ano e vai alocar R$ 600 milhões em  negócios de inovação nos próximos 5 anos. “O fundo nasce em um momento de turbulência e, embora a gente não comemore um mercado difícil, acho que isso nos dá uma grande oportunidade”, afirma Pedro Meduna, cofundador do L4 e ex-executivo da Tripda e do Cabify.

“Durante uma escassez de dinheiro, quem tem um fundo pronto e está capitalizado tem mais tranquilidade para escolher os melhores investimentos. Se você olhar a história de private equity e venture capital vai ver que fundos que nascem em momentos difíceis têm uma chance maior de encontrar boas teses e fechar negócios a preços e condições mais acessíveis”, afirma o executivo.

Ainda assim, Pedro reconhece que o momento é de cautela. Ele diz que quando a B3 anunciou o fundo o mercado já vivia certa ansiedade e, por isso, houve muito interesse por parte dos empreendedores em busca de funding. “Temos tentado ser bastante transparentes com as startups, entender as teses e alinhar as expectativas”, pontua. Ele acrescenta que para quem assina os cheques a dificuldade está na precificação, para definir o valor do investimento, e recomenda que as startups revejam seus planos e repensem uma expansão.

Rafael Sbampato, diretor de tecnologia e novos negócios da Valid e líder do comitê de investimentos do fundo Valid Ventures, também vê pontos positivos em lançar um CVC durante a crise. “Do ponto de vista do fundo, a competição entre os fundos pelas startups será menor e o valor estratégico real da transação vai ser ainda maior. Mas tem que ter cautela, não dá para ter uma pressão de sair gastando dinheiro”, afirma. A empresa de certificação lançou seu CVC no fim de junho com os planos de investir R$ 300 milhões nas áreas de governo, identificação digital e inteligência artificial.

CVC vai tomar o lugar do VC?

Da redução de investimentos dos fundos de venture capital e do maior espaço para os corporate ventures, surge a pergunta: será que o CVC vai tomar o lugar do VC? Para Marie Timoner, head do fundo RX Ventures da Lojas Renner, é provável que as modalidades coexistam no ecossistema como parceiros.

“Para a Renner é muito importante coinvestir com [fundos de] venture capital, porque essa é uma relação de muito valor. Apesar da expertise de M&A e business development que temos como corporação, também somos novos nesse mercado. E quanto mais próximos a gente estiver de players que têm a experiência e o conhecimento, melhor vamos investir e mais valor vamos trazer para as startups”, diz a executiva.

Mesmo assim, ela observa que o corporate venture capital tem grande potencial de crescimento no Brasil. “Aos poucos esse movimento começa a ter mais relevância. Só esse ano, 13 empresas listadas na Bolsa de Valores criaram seus CVCs”, afirma. Os dados são de um estudo preliminar da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap). Além da Renner, algumas das empresas listadas no Ibovespa que anunciaram fundos de CVC nos últimos meses são a mineradora Vale, a produtora de celulose Suzano e a Telefônica Brasil.

A visão da B3, segundo Pedro Meduna, é semalhante. “Não digo que [o CVC] vai substituir o venture capital, mas ao longo do próximo semestre teremos cheques do CVC maiores do que antigamente. As participações do corporate vão ganhar importância, mas não acho que seja a morte dos VCs”, argumenta o líder do fundo da bolsa de valores.

Segundo Peter Seiffert, da gestora Valetec Capital, a expectativa é que o CVC seja responsável por 25% a 30% dos investimentos realizados anualmente em startups. “É um movimento sem volta e que cada vez mais será relevante no mercado”, diz o executivo. Hoje a estimativa é que o número gire em torno dos 5% e 10%. “O maior desafio será a consolidação do CVC como um movimento estratégico e, portanto, mais resilientes aos ciclos econômicos e eventuais crises, que na realidade são ótimas oportunidades de investimentos.”

O que falta para chegar lá

Apesar do potencial, o corporate venture capital ainda enfrenta alguns entraves para se consolidar no Brasil. Pedro Meduna, da B3, observa um desafio cultural. “É difícil corporações, que pensam com grandes processos, budgets e estruturas, entenderem a dinâmica e a tomada de decisão em um ambiente mais empreendedor”, pontua.

Ele destaca que a agilidade das startups é maior e que muitas vezes os problemas de empresas novas ainda não têm respostas – e as corporações precisam entender isso. “Às vezes é muito fácil uma organização grande fazer seu negócio ser ainda maior. Mas é muito difícil fazer o pequeno crescer, porque está tudo sendo construído.”

Rafael Sbampato, da Valid, acrescenta um outro aspecto. “A sociedade pensa por referência. As pessoas só fazem algo depois que alguém faz também e essa modalidade ainda não é tão forte no Brasil”, pontua. O executivo acrescenta que a relação de sociedade é mais complexa do que a de compra e venda. “A corporação precisa saber com o que ela pode ajudar o empreendedor e o que ela quer tirar da parceria.”

Ao contrário do que pensam algumas corporações, ter dinheiro disponível e vontade de inovar não é suficiente para começar um CVC. A opinião unânime dos executivos é que a corporação precisa preparar o terreno – e muito bem.

No caso da Renner, que anunciou o RX Ventures em março, atrás do lançamento estiveram 8 meses de estudo de mercado. “Fizemos mais de 30 benchmarking nacionais e internacionais para entender de que forma os fundos de corporações operam”, afirma Marie Timoner. A companhia desenhou sua tese: cheques de R$ 10 milhões a R$ 15 milhões em startups de moda e varejo, e-commerce e marketplaces, martechs (conteúdo, marketing e branding), fintechs e logtechs, que tenham boas práticas ESG.

“Entendemos que, como investidor minoritário, temos um papel estratégico muito além do financeiro para ajudar os empreendedores a escalarem seus negócios”, diz a executiva. Estruturado em parceria com a gestora Ahead Ventures, o fundo da Renner conta com um time dedicado exclusivamente para o braço de corporate venture capital. “Tem sido um desenho bastante vencedor, porque garante acesso às melhores práticas de relacionamento entre a corporação e o ecossistema e, com isso, acesso às melhores startups e tecnologias.”

Rafael, da Valid, ressalta que não adianta lançar um CVC só porque outras empresas estão fazendo também. “A chance de dar errado é muito alta, porque essa não deveria ser uma motivação”, pontua o executivo. Ele argumenta que existem várias formas de promover a inovação – e o corporate venture é apenas uma delas. O formato certo para cada empresa depende de suas estratégias e objetivos.

A dica para as corporações que ainda estão entrando no ecossistema é começar com passos pequenos. “Participe de um programa de aceleração, visite conferências e faça investimentos passivos por meio de outros fundos. Conheça a indústria antes de montar o seu CVC”, sugere Pedro Meduna, da B3.

Se depois de tudo isso fizer sentido para a companhia investir diretamente nas startups, Pedro recomenda que as corporações criem um braço dedicado ao CVC, separado das outras operações. E essa frente não deve estar na área de M&As, nem de outras parcerias estratégicas. Precisa ter uma estrutura de corporate venture. “Se você mistura o veículo de investimento com o seu negócio principal, o CVC vai competir por dinheiro, time e recursos”, conclui.

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Jornalista. Possui experiência no mercado financeiro, social media e customer experience. Passou pela XP Inc.

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