Com engenharia reversa inspirada na ASML, país desenvolve equipamento de litografia extrema e acelera seu projeto de independência em semicondutores.
China entendeu que os chips são o novo ouro
, redator(a) da StartSe
6 min
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18 dez 2025
•
Atualizado: 18 dez 2025
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A China concluiu o protótipo de uma máquina capaz de gerar luz ultravioleta extrema (EUV), tecnologia essencial para fabricar chips de última geração — aqueles que alimentam sistemas de IA, supercomputadores e smartphones premium.
A novidade, revelada por uma investigação da Reuters, representa o avanço mais ousado da iniciativa chinesa de se tornar independente das empresas ocidentais de semicondutores.
O protótipo foi construído em Shenzhen por ex-engenheiros da ASML, gigante holandesa que domina o mercado de máquinas EUV. Embora o equipamento chinês ainda não tenha produzido chips funcionais, ele já opera sua própria fonte de luz EUV — um marco considerado o maior gargalo dessa tecnologia.
A iniciativa integra o esforço nacional liderado por Xi Jinping para reduzir a dependência tecnológica externa. Internamente, autoridades chamam o plano de um Projeto Manhattan para semicondutores — uma corrida massiva, coordenada e secreta para alcançar autonomia em litografia, design e fabricação.
A operação é conduzida pelo alto escalão do governo, com coordenação direta de Ding Xuexiang, figura central no Partido Comunista, e participação ativa da Huawei e de centenas de institutos de pesquisa.
Em abril, o CEO da ASML afirmou que a China levaria “muitos, muitos anos” para chegar à tecnologia EUV — lembrando que sua própria empresa demorou quase 20 anos e gastou bilhões para lançar o primeiro modelo comercial em 2019.
Mas o protótipo chinês sugere outro ritmo:
A meta oficial é produzir chips funcionais até 2028;
Fontes próximas ao projeto apontam um cenário mais realista entre 2029 e 2030;
Ambos os prazos são bem antes das projeções ocidentais de uma defasagem de dez ou quinze anos.
Para analistas, se a China conseguir uma fonte de luz potente, estável e com baixo nível de contaminação — o trio de requisitos essenciais —, já terá vencido a parte mais complexa da engenharia.
Boa parte do protótipo utiliza componentes retirados de versões antigas de equipamentos ASML comprados em mercados secundários.
Empresas intermediárias teriam sido usadas para mascarar o comprador final, segundo fontes.
O Instituto de Óptica de Changchun conquistou um avanço decisivo em 2025 ao integrar a luz EUV com o sistema óptico do protótipo, permitindo a operação inicial da máquina.
Desde 2018, Estados Unidos e Holanda impõem restrições rígidas para bloquear o acesso da China às máquinas EUV — consideradas tecnologias altamente sensíveis.
O governo americano ampliou o bloqueio em 2022, proibindo também exportações de equipamentos de litografia avançada não-EUV para a China.
Em resposta, o país intensificou o recrutamento global de talentos, oferecendo bônus equivalentes a milhões de reais para trazer engenheiros estrangeiros. Entre as contratações, está Lin Nan, antigo responsável pela tecnologia de fontes de luz da ASML em Xangai.
A operação funciona sob forte sigilo: engenheiros utilizam identidades falsas, pseudônimos e regras estritas de acesso nos laboratórios de Shenzhen.
O protótipo não coloca a China imediatamente no mesmo patamar de TSMC, Intel ou Samsung — mas representa, pela primeira vez, um caminho realista para reduzir a dependência das máquinas ocidentais.
Se o país conseguir fabricar chips avançados sem ASML:
Para o Ocidente, o relógio começou a correr mais rápido.
Para a China, é o primeiro grande sinal de que o seu “Projeto Manhattan dos chips” está funcionando.
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Jornalista e Copywriter. Escreve sobre negócios, tendências de mercado e tecnologia na StartSe.
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