A Indústria 4.0 e a importância da cultura de inovação

José Velloso Dias Cardoso, CEO da ABIMAQ, é o entrevistado da coluna sobre Indústria 4.0 da StartSe. Ele responde e comenta sobre os desafios para a consolidação da indústria 4.0 no país.

Para você, quais são os principais desafios para uma empresa que deseja se adequar a Indústria 4.0 no Brasil?

São basicamente 3 pontos: Gestão, Cultura para Inovação e Inovação Aberta.

Nivelar e equalizar a gestão da empresa, tanto administrativa como as estratégicas e operacionais, é fundamental para iniciar esta jornada. Sem uma gestão organizada e desafios claramente definidos, dificilmente as empresas conseguirão alcançar um avanço tecnológico que demanda a indústria 4.0. Além disso, é de extrema importância uma Cultura para a Inovação, e quando falamos de Cultura para a Inovação, é fundamental o papel das pessoas nisso, não pode ser apenas uma falácia que a empresa tem uma cultura inovadora, tem que estar no dia-a-dia das pessoas, no DNA da empresa. 

Agindo assim, naturalmente se constrói uma cultura de transformação digital que resultará, no chão de fábrica, em Indústria 4.0. As empresas precisam parar de considerar que a inovação é algo abstrato e imensurável: além de estar relacionada aos produtos, também se refere às mudanças em processos, governança industrial, marketing e até em novos modelos de negócios. 

Para se ter uma cultura inovadora, existem diversas ferramentas, processos e boas práticas que podem auxiliar as empresas em seus avanços tecnológicos, daí em diante, as indústrias conseguem identificar as oportunidades que as tecnologias habilitadoras da Indústria 4.0 podem trazer aos negócios de cada empresa. É aí que se destaca a importância de se ter processos de inovação estruturados, com um olhar estratégico de curto, médio e longo prazo para o futuro dos negócios da empresa e, nesse caso, a importância de trabalhar os modelos de inovação aberta se faz cada vez mais necessários.

Empresas que estão conseguindo avançar em seus projetos, seguem essa dinâmica e começaram a trabalhar com os diversos sistemas de inovação, parcerias com Hubs de Inovação, aceleradoras de startups, Universidades, Centros de Pesquisas e Tecnológicos e até outras empresas. Essas parcerias são fundamentais para o crescimento dos projetos, além de ser uma forma de diluir os riscos inerentes à inovação.

Existe algum setor no Brasil que está mais adiantado na Indústria 4.0?

Alguns setores souberam acelerar suas atividades, vimos muitos relatos e cases no setor automotivo e logístico, mas também vemos exemplos na indústria petroquímica, farmacêutica e no setor agroindustrial, tanto na agricultura de precisão, como na indústria alimentícia e de bebidas,  além de um avanço considerável na indústria de máquinas e equipamentos, entregando soluções 4.0 para todos os demais setores econômicos.

Há muito o que se fazer, pois se por um lado, em nosso setor, é muito evidente a evolução nos produtos desenvolvidos, por outro lado, a indústria como um todo ainda está observando o comportamento do mercado e entendendo em quais tecnologias habilitadoras deve investir.

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Faltam políticas públicas para a indústria 4.0?

O principal problema aqui é que devido a erros de governos anteriores, o termo “Política Industrial” ficou muito desgastado no Brasil. Diferentemente de outros países como China, Alemanha, França e EUA, não temos um documento único, desenvolvido sob a liderança da Presidência da República que dê o peso necessário ao tema.

Temos avançado, porém a um ritmo lento, comparativamente aos países desenvolvidos. A Estratégia e o Plano Nacional de Inovação foi lançado em 2021, o Plano Nacional de IoT em 2018, a Câmara Brasileira da Indústria 4.0 (Câmara I4.0)  foi lançada somente em 2019. Ainda não lançamos o edital do 5G, só aprovamos o Marco Legal das Startups e o Marco Legal da Inteligência Artificial este ano. A Finep e o BNDES lançaram linhas específicas de financiamento para a implementação de soluções 4.0.  Apesar de todos esses esforços, o que se vê são pontos importantes sendo implementados pelos diversos ministérios, mas não se percebe uma articulação de todas as ações de forma unificada, como uma  estratégia de país.

Quais as competências que o novo profissional da indústria 4.0 precisa ter para se manter atualizado e continuar com o seu nível de empregabilidade elevado?

Já existem sinais claros sobre a falta de profissionais qualificados para a indústria como um todo, mesmo sendo o setor que tem melhores remunerações, ainda é muito disputado por outros setores, como o financeiro, TI, marketing e até logístico, mas os profissionais que queiram avançar suas competências devem estar cada vez mais atualizados com as Hard Skills, como linguagens de programação, as metodologias ágeis de gestão, data analytics, sustentabilidade, cybersegurança, soluções para eficiência energética, entre outras, e mais que isso, precisarão trabalhar cada vez mais seus Soft Skills, pois deverão trabalhar cada vez mais com um público diverso e com olhares diferentes, sem dúvidas essas habilidades emocionais serão extremamente necessárias para um profissional completo.

Como você acredita que a ABIMAQ pode contribuir com esse novo cenário tecnológico da indústria 4.0 no país?

A Abimaq sempre participou em diversas frentes para acelerar políticas que fortalecem os investimentos em Indústria 4.0. Já em 2012 apresentamos o Projeto “BK Inteligente” no âmbito do Programa Brasil Maior em 2012, visando incentivar o desenvolvimento da integração de softwares e eletrônica embarcada nas máquinas e equipamentos. Desenvolvemos em 2013, o primeiro Laboratório de Comissionamento Virtual para treinamento de mão de obra do Brasil junto com o Instituto Mauá de Tecnologia.

Em 2014 apresentamos o tema “A Indústria do Futuro” no nosso evento anual de tecnologia e inovação, o ABIMAQ Inova, sendo este um dos primeiros eventos abertos para discussão sobre o tema da manufatura avançada no Brasil. em 2016, lançamos o primeiro Demonstrador de Manufatura Avançada apresentado no País durante a FEIMEC, isso em conjunto com diversas empresas do setor. Essa iniciativa, muito bem elogiada pelas empresas e comunidade tecnológica, potencializou as iniciativas subsequentes no Brasil. O Demonstrador de Soluções em Indústria 4.0 tem sido apresentado desde então em nossas feiras FEIMEC e EXPOMAFE.

A Abimaq participa da Câmara Brasileira da Indústria 4.0, uma iniciativa coordenada pelos Ministérios da Economia e da Ciência, Tecnologia e Inovações (ME e MCTI), para formular e implementar iniciativas voltadas para a adoção de tecnologias 4.0 pela indústria brasileira, onde seu principal objetivo é impulsionar o desenvolvimento industrial do Brasil por meio da adoção de tecnologias 4.0, promovendo aumento de produtividade, competitividade e desenvolvimento econômico.

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A Abimaq, a partir de seu Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento para a Indústria de Máquinas e Equipamentos - IPDMAQ, cujo objetivo é acelerar a transformação da indústria pela inovação, lançou diversos programas que visam acelerar as atividades inovativas das empresas. Um exemplo é o Desafio Abimaq de Inovação e o NAGI Abimaq, que são programas oferecidos aos associados para ajudar na estruturação da Gestão da Inovação e no avanço dos seus projetos de Transformação Digital, programas que já atenderam mais de 80 empresas.

Também temos feito pesquisas com o tema Indústria 4.0 com o Núcleo de Engenharia Operacional (NEO) da UFRGS - em 2018 e 2021, bem como pesquisa própria com relação à demanda por mão de obra qualificada por nossos associados, que tem sido base para a discussão junto ao governo para a readequação dos cursos de requalificação profissional e dos cursos profissionalizantes de nível médio.
Atualmente estamos desenvolvendo uma plataforma de conexão de soluções digitais que pode acelerar a adesão das empresas nas chamadas Plataformas Digitais, o Abimaq Conecta, que é uma solução em cloud que visa facilitar a conexão do chão de fábrica das indústrias com as soluções digitais.

Como vê, a Abimaq tem participado ativamente na disseminação da Indústria 4.0 desde o início, mas há muito que se fazer para que o Brasil avance cada vez mais nesta jornada industrial, isso engloba a sociedade como um todo, desde a formação para o desenvolvimento de competências tecnológicas, como investimentos públicos e privados, e deve ser prioridade para um posicionamento estratégico brasileiro.

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