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Como a Tesla chegou a US$ 1 trilhão

Embora a empresa esteja super associada a figura de Elon Musk, ela não foi fundada por ele. Os pais da Tesla, na verdade, são Martin Eberhard e Marc Tarpenning – dois executivos que deixaram a companhia em 2008. Eberhard, inclusive, foi o primeiro CEO da empresa. Conheça a história e saiba como a empresa alcançou o valuation trilionário.

Como a Tesla chegou a US$ 1 trilhão

Logo da Tesla (foto: li xiang/Unsplash)

, jornalista

48 min

13 mai 2021

Atualizado: 8 ago 2023

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Certamente você já ouviu falar sobre a Tesla. A startup é uma das mais proeminentes do mundo, além de ser uma das mais valiosas. A empresa, praticamente sozinha, conseguiu popularizar a ideia de que carros elétricos são interessantes e, nas palavras de seu CEO, Elon Musk, “sexy”.

A companhia, pela primeira vez, fez alguma pessoa desejar ter um carro elétrico não somente por ser mais amigável para a natureza, e sim por ser um produto bacana. Seus modelos atuais, Model S, Model X e Model 3, estão na lista dos carros mais desejados pelos usuários no mundo. Entrar neles te dá a sensação de entrar no futuro.

Cada um tem uma performance invejável – o Model S chegou a bater o recorde de aceleração de 0 a 100 km/h, conseguindo a marca de 2,28 segundos. Maior aceleração que Ferraris, Lamborghinis, Paganis e outros tantos supercarros. Para o apaixonado por carros velozes, um carro elétrico fez sentido pela 1ª vez.

Além disso, a função Autopilot, também chama a atenção de quem quer comprar um carro, mas por outro motivo: comodidade. Basicamente, o carro acelera sozinho, freia sozinho, muda de pista sozinho e até faz baliza sozinho. Um dia, em breve, ele vai ser completamente autônomo. Impressionante e revolucionário, capaz de mudar completamente o padrão da indústria automotiva.

Mas a novidade da vez é que a empresa alcançou na última segunda-feira (25/10) o valor de mercado de US$ 1 trilhão ― e entrou para o seleto grupo que Apple e Microsoft fazem parte. Isso aconteceu após a Hertz, locadora de veículos, fazer a encomenda de 100 mil carros da montadora. 

A fundação

Embora a empresa esteja super associada a figura de Elon Musk, ela não foi fundada por ele. Os pais da Tesla, na verdade, são Martin Eberhard e Marc Tarpenning – dois executivos que deixaram a companhia em 2008. Eberhard, inclusive, foi o primeiro CEO da empresa.

Ambos financiaram a companhia nos primeiros meses de existência, até encontrar um investidor que pudesse ajudar no começo de 2004: Elon Musk, que na época acabava de sair do PayPal. Musk financiou a Series A da empresa e se tornou o maior acionista da companhia, além de entrar no conselho de administração da companhia.

Os primeiros anos da companhia foram difíceis, mas em 2008 a companhia lançou seu primeiro carro, o Tesla Roadster, um esportivo criado com a ajuda da montadora Lotus. A função do automóvel? Fazer um carro elétrico legal o suficiente para ser desejável pelas pessoas.

Ele chegou batendo vários recordes: foi o primeiro carro elétrico a chegar a bater mais de 200 km/h, chegando a um total de 201 km/h. Além disso, tinha uma autonomia de 320 km/h, também sem precedentes entre carros elétricos, e acelerava de 0 a 100 km/h em 3,7 segundos.

No total, foram vendidos 2.450 Tesla Roadsters em 30 países diferentes, o suficiente para colocar a empresa no mapa – mas muito longe de tornar a companhia em uma empresa de “massa”.

A primeira crise ninguém esquece

Nesse meio tempo, a empresa passou por grandes problemas – sua primeira crise -, mudou de CEO três vezes e recebeu investimentos que totalizaram US$ 187 milhões (incluindo até investimentos por parte dos fundadores do Google, Sergey Brin e Larry Page). Só haviam entregado 147 carros até então.

Musk assumiu a empresa e conseguiu resolver os problemas mais urgentes que afetavam a empresa, como a falta de dinheiro. Em maio de 2009, vendeu 10% da Tesla para a Daimler por US$ 50 milhões, recebendo um valor semelhante da Toyota logo depois. A companhia também recebeu um empréstimo de US$ 465 milhões de um fundo de desenvolvimento tecnológico do Departamento de Energia Americano.

Isso efetivamente salvou a empresa da falência no começo da década. Para garantir ainda mais o financiamento, a empresa abriu o capital na Nasdaq, recebendo US$ 226 milhões. A companhia desenvolveu bons relacionamentos com o mercado de capitais, o que se tornou uma das suas principais armas para avançar em seus planos. Desde então, a Tesla já precisou captar dinheiro em diversas situações diferentes.

Em maio de 2013, a companhia levantou US$ 1 bilhão, parcialmente para pagar o empréstimo do departamento de energia. Em fevereiro de 2014, foram vendidos US$ 2 bilhões em dívida corporativa para construir a GigaFactory, sua fábrica no Estado de Nevada. Em agosto de 2015, foram levantados US$ 738 milhões para desenvolver o Model X e no mês de maio de 2016, mais US$ 1,46 bilhão para avançar no Model 3. A empresa ainda vendeu uma participação de 5% para a chinesa Tencent por US$ 1,8 bilhão em março de 2017.

Os carros atuais: S, X, 3

Depois do Roadster, a empresa continuou desenvolvendo produtos até chegar na atual configuração: Model S, Model X e Model 3. Foram vendidos mais de 500.000 carros da empresa até hoje, um ritmo de aproximadamente 30.000 carros por trimestre, sendo que o Model S é o que atualmente mais vende (algo que deve ser ultrapassado em breve pelo Model 3).

Os carros são desenhados para não apenas serem de alto nível e tecnológicos. Eles precisam parecer de alta tecnologia – a Tesla gosta de se pensar em uma empresa de tecnologia que fabrica carros, não uma montadora que usa tecnologia. O painel dos carros, por exemplo, é um grande tablet que concentra tudo sobre o carro (e inclusive pode entrar na internet, procurar coisas no Google, etc) e mostra os caminhos do Waze.

Model S

O Model S é um sedã-médio, que teoricamente compete com carros como BMW Série 3 e Mercedes-Benz Série C. Ele é atualmente o segundo carro elétrico mais vendido da história, atrás apenas do modelo Leaf, da Nissan. No total, mais de 200 mil Model S já foram vendidos ao longo dos últimos 6 anos.

O carro é espetacular: nota máxima em testes de segurança, 539 quilômetros por carga (embora alguns testes indiquem que é possível fazer mais de 1.000 quilômetros por carga) e faz de 0 a 100 km/h em apenas 2,28 segundos, o recorde de velocidade entre todos os carros de produção do mundo.

Como de praxe para a Tesla, o início da produção do carro foi fortemente atrasado. Ele era esperado para o começo do ano de 2009 – mas só foi lançado mesmo no final de 2012. A espera valeu a pena e o carro é simplesmente espetacular. Alguns problemas de produção também fizeram com que o Model S tivesse uma demanda maior do que a oferta.

São três modelos. O 75D tem 415 km de alcance, faz um limite de 224 km/h e custa US$ 82,8 mil atualmente, cerca de R$ 331,2 mil com o dólar a R$ 4. Já o 100D tem 536 km de alcance e 248 km/s de velocidade máxima, custando US$ 102,3 mil, ou R$ 409,2 mil. O mais caro é o P100D, que tem a melhor aceleração de todas, mas apenas 504 km de alcance e os mesmos 248 km/s de velocidade máxima. Ele custa US$ 135 mil, ou R$ 540 mil.

Model X

Talvez o único carro que impressione tanto quanto seja seu irmão mais novo e maior, o Model X. Ele é um carro tão bem produzido que Elon Musk uma vez admitiu que eles “capricharam em excesso”, o que causou problemas na produção. Ele é um crossover parecido com um SUV, com características portas de “asa de gaivota” (que levantam para cima, ao invés de abrirem para os lados).

O carro foi desenvolvido em 2015 e já vendeu mais de 70.000 unidades e impressiona pelo seu tamanho e desempenho. Ele, em sua versão máxima, tem um alcance total de 465 quilômetros por carga e faz de 0 a 100 km/h em apenas 2,9 segundos – praticamente o suficiente para ser o SUV mais rápido do mundo.

Mesmo sendo tão bem produzido assim, o carro deu alguns problemas famosos. Em 2016, mais de 70% dos carros passaram por um recall por conta de problemas de segurança – o que ajudou muito a jogar dúvidas a respeito sobre a qualidade dos produtos da companhia. Um ano depois, mais um recall de 11 mil carros.

O X, porém, é um carro impressionante. Tudo é pensado nos mínimos detalhes (até o porta copos é adaptável, o que ajuda muito). Como o S, também são três modelos. O 75D tem alcance de 380 km de alcance, velocidade máxima de 208 km/h e custa US$ 88,8 mil (R$ 355,4 mil). O 100D tem alcance de 472 km de alcance, 248 km/h de velocidade máxima e custa US$ 105,3 mil, ou seja, R$ 421,6 mil. Já o P100D custa US$ 140 mil (R$ 560 mil) e tem o melhor desempenho entre os Model X.

Model 3

O carro do momento, porém, é o Model 3, desenhado para ser o carro popular da empresa. Embora o preço esteja longe de qualquer coisa que possa ser chamado de popular no momento, fica claro uma tentativa da empresa de se tornar cada vez mais “de massa”. Ele foi recém-lançado, então a empresa ainda está trabalhando para conseguir estabilizar a produção.

No momento, ao tentar comprar um Model 3, o que você recebe é uma mensagem de espera. Há uma fila de espera gigante, já que a empresa teve mais de 500 mil interessados em comprar o carro – mas demorou 6 meses mais do que o esperado para atingir a primeira meta de produção, de 5 mil carros por semana. Cada uma dessas pessoas teve que realizar um depósito de sinal de cerca de US$ 1 mil e 25% já pediu seu dinheiro de volta.

O carro, porém, tem sido muito bem avaliado. Ele é tido como a esperança para a empresa popularizar a ideia de carros elétricos. Ele foi desenhado para ser muito mais simples que os Model S e o Model X, mas mesmo assim continua com a aparência de alta tecnologia característica dos carros da Tesla.

Até agora, apenas um modelo do Model 3 está sendo vendido. Trata-se do modelo com bateria de longa distância, com 496 km de alcance. Ele custa US$ 49 mil, cerca de R$ 196 mil. Caro demais para um carro “popular”. Outro modelo, com a bateria normal, deverá ser disponibilizado em breve, pelo preço de US$ 35 mil, o que equivale a R$ 140 mil no dólar a R$ 4. Também muito caro para carros populares (e isso sem contar que, importado para o Brasil, os impostos fazem ele triplicar de preço).

Y, Semi e Roadster: apostas no futuro

Para 2019, a Tesla deverá ter um carro novo na rua. Trata-se de uma picape, o Model Y. Não se sabe muita coisa sobre o novo carro, mas entende-se que a companhia de Elon Musk está tentando invadir novos territórios com seus carros. As picapes são alguns dos carros mais vendidos nos Estados Unidos, principal mercado da Tesla, além de fazerem sucesso aqui no Brasil também.

A Tesla também pretende reviver o Roadster como um esportivo de altíssima performance. A promessa da companhia é que ele se tornará o carro mais rápido do mundo ao fazer de 0 a 100 km/h em apenas 1,9 segundos. O seu design também foi radicalmente refeito, modernizado frente o carro que foi o 1º modelo da Tesla.

O mais impressionante novo produto da Tesla, porém, deverá ser o Semi – a ser lançado em 2020. Com o avanço da tecnologia de carros autônomos, a Tesla se prepara para invadir talvez ouso mais óbvio dessa tecnologia: barateamento de frete. Por isso, ela está fazendo caminhões semi-autônomos, que se dirigiriam sozinhos durante a estrada e só requerem o input humano em certas ocasiões dentro das cidades.

Este produto já é um sucesso antes mesmo de ser lançado. O Walmart já demonstrou interesse em ter milhares desses caminhões para baixar o frete (esses caminhões trabalhariam muito mais do que caminhoneiros e tirariam vários encargos trabalhistas). Contudo, é onde ela tem mais competição, enfrentando Waymo e Uber neste campo.

Revolucionando nas vendas: adeus concessionárias

A Tesla, porém, não nasceu apenas para mudar a forma que os carros são produzidos e funcionam – ela também quer mudar como eles são vendidos. Por isso, a empresa aboliu uma figura muito importante do ramo automobilístico: o concessionário. E isso causou alguns problemas para ela, mas ela segue em frente com seus planos.

A companhia não conta com concessionárias, e todas as vendas são feitas diretamente através do site da companhia – você pode simplesmente visita-lo e fazer a compra ali. A intenção é cortar o “intermediário” de todas as operações da empresa, mesmo um intermediário tão importante para a indústria de automóveis, como é o concessionário.

Em substituição às concessionárias, a conta com showrooms próprios espalhados pelas cidades e shopping centers – com decoração minimalista. Ao se interessar pelo carro, porém, a compra é realizada através do site da própria Tesla. Com isso, a empresa vai desenvolvendo um sistema de venda direta tão desejado por algumas montadoras.

Essa decisão, porém, lhe valeu alguns processos por parte de algumas associações de concessionários. Embora seja tido como um território da liberdade econômica, 48 dos 50 estados americanos possuem leis que proíbem ou limitam operações parecidas com as da Tesla. Algum lobby a empresa terá que fazer no futuro para conseguir resolver essa questão.

Já passou Ford e GM em valor de mercado

Até hoje, a Tesla não é uma empresa de massa. Mas é avaliada como tal. A companhia só tem uma fábrica em operação, comprada de uma joint-venture entre GM e Toyota e adaptada para a empresa, em Fremont, pertinho do Vale do Silício. Seus 500 mil carros entregues ao longo dos anos são apenas uma fração da quantidade de carros vendidos todos os meses pelas grandes montadoras do mundo.

Mesmo assim, a empresa já ultrapassou as duas maiores montadoras dos Estados Unidos em valor de mercado – se tornando a maior do país disparada. Isso aconteceu pela primeira vez no dia 4 de abril de 2017, quando a Tesla chegou a valer US$ 53 bilhões, contra US$ 49 bilhões da GM e US$ 44 bilhões da Ford.

Um ano e pouco depois, no dia 18 de junho, a companhia ainda mantém a liderança – embora em empate técnico com a GM -, valendo US$ 61,86 bilhões contra US$ 61,81 bilhões da GM e US$ 47,80 bilhões da Ford. Enquanto a Tesla vende 30 mil carros por trimestre, a GM vende cerca de 3 milhões. Ainda falta muito para alcançar a mais valiosa do mundo, porém, que é a Toyota, com valor de mercado de US$ 221,57 bilhões.

E ela vem incomodando as gigantes. Um dia depois de ser ultrapassada, a GM destacou que iria investir R$ 14 milhões para criar 1.163 empregos na Cruise, uma startup comprada pela gigante de Detroit por US$ 1 bilhão, a fim de acelerar o desenvolvimento do carro elétrico e autônomo da empresa. A empresa tem um carro elétrico fortemente inspirado na Tesla, o Bolt, e já vendeu mais de 20 mil automóveis deste modelo.

A Ford também trabalha que nem louca para conseguir “fechar esse buraco” entre a Tesla e si mesma. Mark Fields, seu antigo CEO, destacou várias vezes que a empresa queria se transformar em uma “empresa de mobilidade”, ao invés de ser umasimples montadora de automóveis.  A empresa tinha tanta pressa que Fields foi demitido pelo conselho, que escolheu Jim Hackett para seu lugar justamente para acelerar essa mudança na empresa. Hackett era o chefe da divisão de carros autônomos da própria Tesla.

A Ford então desenvolveu 5 pilares justamente para não ser atropelada pela Tesla e pelo Uber. 1) A Ford vai se preparar para a disrupção ao se tornar apto a essa nova era: resetando as receitas e atacando custos. 2) A Ford vai continuar no segmento de veículos, movendo pessoas e cargas 3) Os veículos serão inteligentes e conectados 4) Esses veículos vão operar em um novo sistema de transporte 5) A Ford quer evoluir para capitalizar em novas oportunidades de negócio dentro deste novo sistema de transporte.

Todo esse sucesso em termos de valor de mercado fez com que muita gente apontasse que a empresa vale muito mais do que o merecido. Elon Musk discorda disso, justamente por acreditar que as perspectivas da empresa são superiores às outras montadoras. “A Tesla é absurdamente sobrevalorizada quando você olha para o passado, mas isso é irrelevante. Uma ação representa os fluxos de caixa futuros ajustados pelo risco”, disse Elon Musk no Twitter.

Mas o inimigo talvez seja a Waymo, Didi e o Uber

Se as montadoras tradicionais não são o motivo de preocupação da Tesla, talvez outras três empresas da Nova Economia devam ser: Waymo, Didi Chuxing e Uber. As três são empresas que estão mudando completamente o mundo da mobilidade, de uma maneira ainda mais disruptiva que a própria Tesla.

Uber e Didi Chuxing são as duas startups mais valiosas do mundo, valendo US$ 62 bilhões e US$ 56 bilhões em suas duas últimas rodadas de investimento. Já a Waymo, uma divisão da Alphabet (a holding do Google), é mais difícil de saber quanto vale. De acordo com analistas da UBS, a companhia vale entre US$ 25 bilhões até US$ 135 bilhões e é a verdeira líder da revolução no mercado de mobilidade. “Nós vemos a Waymo como a líder no emergente campo de carros autônomos”, escreveu o analista Eric Sheridan em um relatório.

A Waymo é a empresa perfeita neste novo mundo de mobilidade, a companhia tem um “mix saudável” de diversas formas de monetização no futuro: receitas com táxis autônomos, propagandas que podem ser passadas com o tempo dos passageiros e com mapas, além de todo o segmento de entrega de cargas através dos carros e dos caminhões autônomos que já estão sendo testados. A companhia, porém, tem o seu maior valor na tecnologia que está desenvolvendo, da qual ela é líder disparada. Os carros da Waymo já fizeram muito mais testes de autonomia do que os da Tesla e de todos os outros concorrentes juntos.

essa é uma tecnologia que está completamente quente no momento, com todos os concorrentes do mundo do automóvel atrás deste tipo de tecnologia o mais cedo possível para sobreviver. “O tema comum nesse momento do ciclo da indústria é que qualquer direção que as empresas estão vindo, elas estão reconhecendo a importância de controlar o próprio destino”, destaca o analista, ressaltando que todas as empresas tentam desenvolver coisas parecidas com os que a Tesla e Waymo.

Usando a metáfora do futebol, a Waymo é um golaço do Google – já gerou um valor absurdo para a empresa e pode gerar ainda mais conforme a empresa mude o setor da mobilidade de vez. Uber e Didi Chuxing, empresas muito similares nos Estados Unidos e na China, fazem algo parecido. Ambas estão buscando carros autônomos para poderem operar serviços de mobilidade no futuro.

E elas são disruptivas no sentido de, em nenhum momento, terem demonstrado planejamento de construir seus carros e vende-los. Elas já nasceram adaptadas, sem os vícios da indústria automobilística de outrora. Inclusive, não demonstram “preconceito” e aceitam trabalhar com as empresas do mercado. Travis Kalanick, ex-CEO da Uber, inclusive disse que compraria todos os carros autônomos que a Tesla viesse a desenvolver para colocar em sua rede. Musk, possivelmente, não gostou da ideia.

O Grande Plano

Musk não é um executivo inexperiente e sabe que, desde o anúncio da parte 1 de seu plano lá em 2006, o mundo não parou e é completamente outro. Há 10 anos não se pensava em nada parecido com o Uber e com o Didi Chuxing, mas hoje eles já são altamente presente nas cidades. Por conta disso, ele deu uma adaptada no grande plano da Tesla (chamando de Grande Plano Parte Dois) para afirmar que a Tesla gastará suas energias na construção de uma frota própria de carros particulares autônomos.

A ideia é ter uma própria frota que levará as pessoas, como Uber e Didi Chuxing – e o fato dos carros presentes ter vários donos a adoção pode ser mais rápida que as redes privadas. “Você será capaz de adicionar um carro à frota de compartilhamento Tesla apenas apertando um botão no seu smartphone e gerar receita enquanto você trabalha ou está de férias. Isso diminui drasticamente o custo de se adquirir um Tesla, uma vez que com nossos modelos você poderá utilizar o carro para outros propósitos, se não aqueles embutidos na pequena porção de tempo que você está dentro dele”, diz Musk.

O entendimento de Adam Jonas, analista do Morgan Stanley, é de que a Tesla está à beira da criação de um novo negócio muito valioso: “Tesla Mobility” ou “Tesla Network”. Então é obviamente necessário manter o entusiasmo sobre o curso que a empresa está indo. “Acreditamos que o mercado está cada vez mais próximo da ideia de dar à Tesla uma baixa chance de sucesso em um mercado endereçável muito grande (rede de transporte, dados, tempo), em vez de uma grande chance de sucesso em um mercado endereçável menor (carros e máquinas)”, aponta Jonas.

Além disso, a empresa está trabalhando para criar também uma rede de recargas mais rápida, os Superchargers, já presentes em vários cantos dos Estados Unidos, México, China, Japão, Coreia do Sul, Austrália, Emirados Árabes Unidos e em vários países da Europa Ocidental. A companhia viabiliza o carregamento rápido (demora 30 minutos para carregar 70% da carga e cerca de 80 minutos para carregar 100%). São 10.021 estações em 1.261 pontos diferentes nestes países.

É uma empresa diversificada

Além disso, a empresa está desenvolvendo outros diversos produtos diferentes, como uma bateria para casas e painéis fotovoltaicos, facilitando o armazenamento de energia de fontes sustentáveis e renováveis – como energia solar. Essa diversificação veio após a fusão com outra empresa de Elon Musk, a Solarcity, em agosto de 2016, em uma operação de US$ 2,6 bilhões (pagos em ações) e assumindo todas as dívidas da empresa, que totalizavam US$ 3 bilhões.

A fusão foi considerada polêmica na época, já que representaria um conflito de interesses entre as duas empresas. O que a Tesla, uma montadora de carros elétricos, teria a ver com uma empresa que instalava painéis de energia solar para as casas (fora o CEO, claro)? Principalmente uma empresa que, na época, tinha problemas financeiros?

Elon Musk se defendeu na época dizendo que o conflito de interesse seria se as duas empresas continuassem operando separado – afinal, como a SolarCity era uma grande fornecedora da Tesla, uma situação parecida em que os contratos entre as duas beneficiassem a companhia na qual Elon Musk era mais acionista que a outra.

Isso aconteceu recentemente na história do mercado de capitais brasileiro. Em 2013 e 2014, OSX e OGX, duas empresas cujo acionista majoritário era Eike Batista. Ele tinha uma exposição maior na OSX, então em um momento em que houve um conflito de interesse entre as duas, Eike acabou optando pela empresa onde sua participação era mais relevante. Ou seja, conflitos de interesse existem.

Efeitos da Tesla podem ser sentidos em outras áreas também, como setor de seguros

Carros autônomos vão ameaçar outros dois setores: carros usados e seguros. É o que acredita o analista Adam Jonas, do Morgan Stanley, que afirma que os carros da Tesla se tornarão 10 vezes mais seguro que um carro comum e pode quebrar empresas destes segmentos que não mudarem seus negócios para acomodar uma época em que os carros são muito seguros.

Os carros virão com hardware de segurança, câmeras e radares de distância, além de uma inteligência artificial capaz de identificar perigo e tomar atitudes. Isso fará eles 90% menos propenso a se envolver em um acidente fatal. Além disso, isso poderá se tornar um motivo muito forte para uma pessoa comprar um carro, já que a segurança está entre as prioridades de quase todos os compradores de carros.

O autopilot também será melhorado continuamente e se tornará cada vez mais seguro para o usuário. O hardware já presente no Model 3 (ou seja, o carro mais barato da companhia) será capaz de tornar o carro em completamente autônomo nos próximos anos. São oito câmeras, sensores de ultrassom, radar e um super computador.

Enquanto a autonomia não vem (a tecnologia precisa melhorar e os governos precisam regular e autorizar), essa tecnologia vai ser usada para reduzir acidentes. E isso pode afetar a indústria de seguros profundamente – já tem seguradora cobrando preços menores para Tesla, após um estudo mostrar que os acidentes se reduziram em 40% somente depois da introdução da mudança automática de faixa.

A Tesla oferece aos seus clientes na Ásia um pacote que, inclui no preço de compra do veículo, o custo de seguros e manutenção. Essa é a intenção da companhia para o futuro em todos os seus mercados. “Na Ásia em particular, onde começamos a iniciativa, a maioria dos carros serão vendidos com um produto de seguros que é personalizado para Tesla, que leva em conta não só as características de segurança do piloto automático, mas também a manutenção do carro. É nossa visão de futuro, em que poderemos oferecer um preço único para o carro, manutenção e seguro em uma oferta realmente atraente para o consumidor. Estamos fazendo isso hoje”, disse Jeff Evanson, vice-presidente de Relações com Investidores da Tesla.

A ideia, por enquanto, é de fazer parcerias com provedores de seguros, mas a ideia de lidar com essa questão dentro da própria Tesla não está descartada. “Não estamos excluindo as seguradoras por achar que elas não estão provendo o seguro com o preço proporcional aos riscos do carro. Se precisarmos, vamos fabricar dentro de casa, mas eu acredito que acharemos parceiros que se ajustarão aos nossos padrões”, adicionou o CEO Elon Musk.

A empresa faz isso porque acredita que seus veículos oferecem fortes vantagens em termos de registro de segurança e custos de manutenção durante sua vida útil. Isso pode ser um excelente diferencial para a companhia.

Dificuldades operacionais

companhia, porém, não passa por um período fácil. A Tesla nunca conseguiu cumprir nenhuma de suas promessas operacionais – atrasou todas as vezes. Isso sempre fez com que a empresa tivesse seus planos atrapalhados e tivesse que, eventualmente, levantar cada vez mais dinheiro. Afinal, a empresa queima muito caixa neste momento de sua trajetória.

E para atingir o objetivo de tornar a Tesla uma empresa rentável, Musk está realizando uma reestruturação na empresa – algo que ele já admitiu na última conferência de resultados realizada pela empresa. Nas últimas semanas, a empresa demitiu 9% dos seus 46.000 colaboradores para atingir.

A crise da Tesla só está se agravando – e já teve gente pedindo a saída de Musk da presidência do conselho da empresa, para ficar apenas com o cargo de CEO. Nos primeiros cinco meses do ano a empresa já teve perdas de materiais no valor de US$ 150 milhões – uma quantia enorme que ela basicamente jogou no lixo. Para piorar a crise financeira, a companhia já teve que devolver 25% de todos os depósitos feitos por clientes para reservar o Model 3.

Elon Musk, porém, afirma que a empresa não precisa captar mais dinheiro no mercado, através da emissão de novas ações. Promessa essa que ele já fez e quebrou cinco vezes de 2012 para cá. De acordo com algumas pessoas ligadas ao mercado de capitais, é extremamente necessário que a Tesla capte dinheiro através de ações ou dívida corporativa, ou deverá quebrar até o fim do ano.

O que seria um caminho normal para uma empresa que está desperdiçando cerca de 40% de todos os materiais que entram na Gigafactory para serem transformados em baterias e autopeças, em Nevada. É um nível elevadíssimo de desperdício, muito maior do que as concorrentes (como GM, Ford e todas as outras empresas que estão se adaptando a nova era).

Além disso, muito desse lixo industrial que a Tesla cria é perigoso para o meio-ambiente, inflamável e precisa ser guardado – gerando novos custos para a empresa no longo prazo. A cada 3500 baterias feitas pela empresa, salienta o Business Insider, mais de 1.000 são descartadas.

Além disso, destaca-se que o valor de US$ 150 milhões refere-se apenas ao que foi gasto com o material jogado no lixo, mas não inclui quanto se gastou para produzir esse lixo – o que aumenta ainda mais a quantia. A Tesla se defende afirmando que esse é apenas o início da produção, e que o trabalho que está sendo feito vem diminuindo a criação deste tipo de lixo.

Contudo, os problemas já fizeram a Tesla atrasar de maneira significativa a entrega de novos carros, aumentando o prazo para muitos clientes – e cerca de 25% deles não aceitou esse reajuste de datas, pedindo o dinheiro já investido de volta. A companhia parece longe de atingir o objetivo de Elon Musk de se tornar a montadora mais eficiente do mundo.

Pelo contrário, no momento ela caminha para ser a menos eficiente de todas. Recentemente a empresa mudou alguns processos para diminuir o nível de automação nas fábricas, já que muitos dos problemas estavam concentrados em robôs menos eficientes do que seres humanos ou mal programados.

A companhia confirma que “reduziu temporariamente a automação em algumas áreas e introduziu processos semi-automatizados ou manuais”. Contudo, a forma que escolheu quais máquinas seriam desligadas não tem sido muito boa, de acordo com relatos dos funcionários da Tesla: basicamente, Elon Musk olha para ela e decide se deve ou não desligar, geralmente sem nenhum embasamento de dados para justificar a decisão.

Falta de confiança

Todos esses fatores diferentes já trouxeram uma enorme nuvem de desconfiança. Steve Wozniak, fundador da Apple e um dos maiores comentadores de novas tecnologias, disse no Nordic Business Forum que não acredita em mais nada que o Elon Musk ou Tesla dizem. Além disso, o cofundador da Apple acusou a empresa de carros elétricos de usar tecnologias baratas e fazer alegações exageradas de suas estratégias para carros autônomos, desviando a responsabilidade por erros.

Wozniak ainda comparou as habilidades de vendas de Musk com as de Steve Jobs dizendo que ama o carro, mas que o problema é que com Elon Musk quase tudo retratado de forma duvidosa. “Com o que ele diz, você pode realmente acreditar nele? Ele é apenas um bom vendedor, como Jobs”, afirmou.

Isso envolve principalmente o autopilot, onde Wozniak acredita que o marketing é maior do que a tecnologia que eles já estão utilizando. “Tudo o que Tesla diz é: ‘É beta, então não somos responsáveis – você tem que estar no controle’”, disse Wozniak.

Enquanto isso, Wozniak lembra que a concorrência já alcançou a Tesla no aspecto da tecnologia – e como são mais eficientes, deverão eventualmente eliminar a companhia. “Então, essa é uma forma mais barata de tirar a responsabilidade. Tudo o que li me disse que todos os outros fabricantes de automóveis no mundo – como Audi e BMW – estão realmente à frente da Tesla na questão de carros autônomos”, termina o fundador da Apple.

Já mudou a mentalidade do setor

Um dos objetivos de Elon Musk com a companhia era conseguir fazer com que os carros elétricos tivessem mais aceitação no mercado. Por isso, a companhia até abriu mão de certas patentes, como forma de popularizar os carros elétricos e diminuir a dependência do mundo de combustíveis fósseis.

Nesse ponto, vitória. Além das montadoras estarem se preparando para ter carros elétricos (algumas, como a Volvo, já se preparam para só ter automóveis assim) e trabalhando para tal, ninguém mais duvida que o futuro será assim. Por um motivo simples: a Tesla provou que um carro pode ser elétrico, bom e atrair o gosto dos consumidores.

Até os governos de diversos países já compraram a ideia. China, Reino Unido, Índia, Alemanha e França já determinaram que só será permitida a venda de carros elétricos em um futuro próximo (tem país que quer encerrar as vendas em 2025 e tem país que aceita as vendas até 2040). Isso é um salto gigantesco para um futuro em que nenhum automóvel mais é movido com combustível fóssil. Até a Noruega anunciou isso (e olha que é um país que vive basicamente de petróleo hoje).

Isso é um ganho tremendo para o meio ambiente e para a saúde das pessoas (adeus fumaça nas grandes cidades). E um mundo que pode caminhar para uma matriz energética mais sustentável ao longo prazo. Musk pode não terminar essa história como o empreendedor mais bem sucedido da história, mas talvez como salvador do planeta.

No fim da história, no mínimo a Tesla será ter conseguido mudar a mentalidade de empresas centenárias, sociedades e governos para que o carro elétrico pode ser interessante. A Tesla, praticamente sozinha, trouxe muita gente para a Nova Economia. Fez a Nova Economia parecer como um imperativo para muita gente que nunca tinha sonhado com ela antes.

Seja o que aconteça com a empresa, Musk será eternamente considerado um visionário capaz de mudar o mundo por suas ações. Mas boa sorte para a companhia, que ela supere os problemas de curto prazo e consiga ser uma das líderes desta Nova Economia!

Nas últimas décadas, o Vale do Silício transformou o mundo. A maioria das grandes inovações surgiu na região, e isso não aconteceu por acaso. A boa notícia é que esse modelo pode ser replicado em qualquer região do planeta. Conheça nosso programa Silicon Valley Learning Experience e veja de perto como as empresas do Vale fazem a gestão de seus negócios. Aprenda a cultura, metodologias e abordagens que ajudam no crescimento das maiores empresas do mundo.

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Sabrina Bezerra é head de conteúdo na StartSe, especializada em carreira e empreendedorismo. Tem experiência há mais de cinco anos em Nova Economia. Passou por veículos como Pequenas Empresas e Grandes Negócios e Época NEGÓCIOS.

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