Luli Radfahrer, da USP: “a sociedade deve regulamentar o uso de redes sociais”
Por Enio Lourenço
14 de Maio de 2019 às 07:37 - Atualizado há 2 anos

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Google, Facebook, Amazon, Apple e IBM compõem um cartel tecnologia de consumo, que vendem ou oferecem gratuitamente serviços digitais – respectivamente: YouTube e Android; Facebook, Instagram e Whatsapp; Alexa e AWS; iOS; e Watson – em troca das identidades de seus usuários.
Essa é a opinião de Luli Radfahrer, professor de inovação e interações digitais, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), que ainda classifica as redes sociais das bigtechs como “ferramentas de espionagem”. Eu seu grupo acadêmico de pesquisa, eles classificam o fenômeno como “datacracia”. “É a ideia de um regime baseado em dados, que trabalha em função deles”, diz o professor, em entrevista exclusiva à StartSe durante a Locaweb Digital Conference, realizada no final de abril.
A constituição desse fenômeno é baseada em três pilares: ética, epistemologia e ontologia. O primeiro está ligado à percepção do que está certo ou errado; o segundo é a forma como construímos nosso conhecimento, as origens para entender o que é certo e o errado; e o terceiro é a visão essencial de mundo de cada um, a metafísica.
Para Radfahrer, além de fomentar um sistema de “marketing de vigilância”, as bigtechs subvertem a essência da identidade, a noção de realidade e o livre arbítrio de seus usuários através de mecanismos de big data analytics. Como consequência dessa influência, o pesquisador não titubeia em citar disputas narrativas sobre outrora pontos pacíficos, como a ideia de que o planeta Terra viria a ser plano.
“Esse ambiente de dados muda muito a forma como as pessoas enxergam o mundo e a forma com que interpretam o conhecimento, fazendo com que elas tomem decisões completamente desinformadas. É basicamente como se o mundo lá fora não acontecesse, porque o mundo está acontecendo dentro dessa estrutura fechada (e nem sempre verdadeira, vide o fenômeno das fakenews)”, critica.
O acadêmico enxerga que essa quebra de paradigma ocorreu quando as grandes empresas de tecnologia descobriram que poderiam comercializar a identidade das pessoas e, por consequência, suas vontades. “Esse pequeno grupo de empresas decretou que isso era propriedade privada e passou a vender informação sigilosas. E um monte de empresas hoje compra e vende informação privada, achando que é normal”, afirma.
Empreendedorismo digital: por onde seguir
“Se você não pagou pelo produto, você é o produto”. Essa é uma máxima comum do movimento de open source, que o professor Radfahrer afirma ser possível fazer uma nova interpretação, em que o adjetivo mais adequado, hoje, seria “subproduto”.
Na esfera privada, o especialista em inovação alerta que o expediente de comercialização de identidades digitais está com os dias contados, pois tal modelo está longe da ideia de empreendedorismo, uma vez que em nada melhora a vida das pessoas. “Se você negocia a identidade de um cliente, você não é um empreendedor, você é um traficante. Quando você inventa um negócio para ganhar dinheiro e piorar a vida das pessoas, a melhor coisa que pode acontecer é seu negócio ter uma vida curtíssima. E a maior parte das empresas morreu tão rápidas quanto nasceu, porque não gerou uma coisa produtiva, benéfica”.
O Waze, ainda que depois tenha sido comprado pelo Google, é um modelo que Radfahrer destaca como um caso que usou positivamente o ambiente digital, endereçou uma dor, de forma colaborativa e não está contaminado por discursos de ódio e preconceitos, como outras redes sociais. Em contraposição, o especialista é crítico ao modelo da Uber, que está sendo muito lucrativo para a empresa – o aplicativo faturou 50 bilhões de dólares em transporte de passageiros e entregas de comida em 2018 –, mas traz consigo uma série de problemas sociais.
“É um modelo que explora o motorista, não dá nenhuma garantia e ainda coloca o passageiro sob risco de entrar num carro desconhecido, com um indivíduo despreparado e exausto. Isso para economizar cinco reais com o táxi, que também era um sistema com muitos problemas. O que está acontecendo hoje é que estamos vendo as loucuras de um mundo que está com os dias contados”, afirma Radfahrer
Regulamentação do ambiente digital
O especialista em inovação traça um paralelo do mundo digital balizado pelas dinâmicas das bigtechs com o que ocorreu com a indústria automobilística no início do século passado, quando as montadoras não se preocupavam com questões de segurança. Mais de um século depois, os automóveis ainda poluem e fazem barulho, mas em menor escala.
E existe uma série de proteções para evitar sinistros e preservar a vida dos passageiros, e uma indústria que segue lucrando. A sociedade civil, segundo Radfahrer, deve demandar o mesmo tipo de regulação para o ambiente digital através de leis e estruturas.
“A ideia não é matar a rede social. É promover um tipo de adequação que o ambiente digital precisa para uma vida mais tranquila. O que está acontecendo? [As redes sociais] estão comendo as nossas liberdades o tempo todo. Aquilo que você publicou há quatro anos, pode cortar você de uma entrevista de emprego. E isso é errado. Existe uma epidemia de depressão. O digital é a coisa mais humana que a gente tem, é linguagem. Mas é preciso um tipo de regulação que permita o uso, mas impeça o abuso”, resume.

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