Notebooks e PCs também entram na lista, veja como se preparar
Smartphones ficarão mais caros e menos potentes em 2026 devido alta da memória RAM
, redator(a) da StartSe
13 min
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17 dez 2025
•
Atualizado: 17 dez 2025
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Seu smartphone pode ficar mais caro e menos potente em 2026. Seu notebook também. A culpa? Data centers de inteligência artificial estão consumindo a produção mundial de memória RAM — e isso vai mudar o mercado de tecnologia pelos próximos anos.
Há uma crise se formando no horizonte tecnológico que poucos estão percebendo. Não é sobre software, algoritmos ou modelos de IA. É sobre algo bem mais tangível: memória RAM. E ela pode afetar desde o smartphone no seu bolso até o notebook na sua mesa de trabalho.
A boa notícia? Já passamos por algo parecido antes e sabemos como isso termina. A má notícia? Vai demorar alguns anos até a normalização completa.
A revolução da inteligência artificial generativa trouxe uma consequência inesperada: uma disputa global por componentes de memória. Empresas como OpenAI, Google, Meta, Amazon e Microsoft estão construindo data centers gigantescos para alimentar seus sistemas de IA — e esses data centers precisam de quantidades absurdas de memória RAM.
Para ter uma ideia da magnitude: a OpenAI firmou acordos com Samsung e SK Hynix para fornecimento de memória destinada ao projeto Stargate, sua megaestrutura de data centers. Segundo o Tom's Hardware, a demanda projetada pode atingir 900 mil wafers de DRAM por mês — o que representa cerca de 40% da produção mundial total de memória.
Esse número impressiona: a SK Hynix atualmente opera com capacidade de 160 mil wafers por mês. A demanda da OpenAI sozinha é quase 6 vezes maior que a capacidade atual de um dos maiores fabricantes do mundo.
Quando gigantes da tecnologia entram na disputa, eles pagam mais. Muito mais. E isso cria um efeito cascata que atinge toda a cadeia produtiva.
A Samsung já anunciou aumentos de até 60% nos preços de seus chips de memória, com mais reajustes previstos. Segundo o DigiTimes, os valores negociados nos contratos de fornecimento de DRAM e NAND aumentaram entre 80% e 100% só em dezembro de 2024, enquanto chips DDR5 tiveram picos de preço quatro vezes maiores do que no início do ano.
O impacto já é visível: segundo o The Verge, apenas os 12 GB de memória de um Samsung Galaxy topo de linha já custam quase US$ 40 a mais do que no ano passado. A Qualcomm também aumentou em cerca de 20% o preço do Snapdragon 8 Elite, processador que será usado nos celulares topo de linha Android em 2026.
A consultoria IDC estima queda nas vendas de celulares em 2026 e aumento médio de US$ 9 no preço final dos smartphones. Mas os números podem ser ainda maiores dependendo da categoria do produto.
Empresas como Dell, Lenovo e HP já informaram que precisarão reajustar seus notebooks entre 15% e 20% em 2026. A Xiaomi antecipou publicamente que seus aparelhos ficarão "consideravelmente mais caros" no próximo ano.
E há outra consequência: pela primeira vez na história, fabricantes estão considerando lançar smartphones em 2026 com menos memória RAM que seus antecessores. Segundo a TrendForce, os modelos com 16 GB de RAM podem estar perto da extinção, enquanto dispositivos com 4 GB devem apresentar crescimento significativo. Modelos com 12 GB de RAM podem sofrer redução de até 40%, sendo substituídos por versões de 6 ou 8 GB.
Se isso parece familiar, é porque já passamos por algo parecido recentemente: a crise de semicondutores entre 2020 e 2023.
Durante a pandemia, a produção de chips foi drasticamente afetada. As montadoras de automóveis, achando que as vendas cairiam, cancelaram seus pedidos de semicondutores. Mas a demanda por eletrônicos domésticos explodiu com o trabalho remoto, e os fabricantes de chips direcionaram sua produção para computadores, tablets e TVs. Quando a indústria automotiva tentou voltar, não havia componentes disponíveis.
O resultado? Segundo a consultoria AlixPartners, 7,7 milhões de veículos deixaram de ser fabricados em 2021. No Brasil, a Anfavea estimou uma redução de 250 mil unidades na produção em 2022.
A crise de semicondutores nos ensina lições importantes sobre tempo e recuperação:
Do início da crise até a recuperação completa: cerca de 3 a 4 anos.
A boa notícia é que as fabricantes já conhecem o caminho. A má notícia é que construir capacidade produtiva para memória leva tempo.
Segundo o Jornal da Unesp, são necessários bilhões de dólares e cerca de 4 a 5 anos para desenvolver uma nova fábrica de semicondutores e colocá-la em produção completa.
As projeções para a crise atual apontam que:
Gerry Chen, gerente-geral da fabricante de hardware TeamGroup, prevê piora no abastecimento ao longo de 2026, com risco de escassez mesmo para empresas dispostas a pagar mais. Ele considera essa apenas a "primeira fase" da crise.
Diferente da crise de semicondutores, que pegou a indústria de surpresa, desta vez o mercado pode se antecipar. Empresas como Lenovo e Apple já estão garantindo estoques para 2026. Fabricantes de memória estão anunciando investimentos massivos em novas fábricas.
Além disso, a dinâmica é mais previsível: sabemos exatamente quem está consumindo a produção (data centers de IA), sabemos as quantidades envolvidas, e sabemos que haverá investimento em expansão de capacidade.
O problema estrutural é claro, e quando os problemas são claros, as soluções podem ser planejadas.
Esta crise revela uma verdade desconfortável mas importante: a revolução da IA tem custos físicos e tangíveis. Não é apenas sobre algoritmos e modelos — é sobre infraestrutura, componentes, energia e recursos finitos.
Por outro lado, também demonstra a capacidade de adaptação da indústria. Assim como aconteceu com os semicondutores, o mercado vai encontrar equilíbrio. Novas fábricas serão construídas. Processos produtivos serão otimizados. Alternativas tecnológicas surgirão.
A pergunta não é se o mercado vai se estabilizar, mas quando — e como sua empresa vai se posicionar até lá.
Se você está planejando trocar de dispositivos:
Para empresas que dependem de hardware:
Crises temporárias na cadeia de suprimentos são parte do ciclo natural de transformações tecnológicas. Quando uma nova tecnologia disruptiva emerge — seja a internet, os smartphones ou agora a IA — há sempre um período de ajuste onde a demanda supera a oferta.
Mas o mercado se ajusta. Sempre se ajustou.
A diferença desta vez é que estamos vendo isso acontecer em tempo real, com dados claros sobre causas e efeitos. E isso, paradoxalmente, é motivo para otimismo: problemas que podem ser medidos podem ser gerenciados.
A crise de memória RAM não é o fim dos eletrônicos acessíveis. É um sinal de transição. E como toda transição, vai passar.
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