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Food loss: como a tecnologia evita a perda de alimentos

Iniciativas que buscam reduzir a perda de alimentos viram nova tendência de negócio.

Food loss: como a tecnologia evita a perda de alimentos

Mulher com tablet e caixas de alface (foto: Getty)

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Por Emily Nery

Você já parou para pensar no caminho que o alimento percorre até chegar ao seu prato? E já refletiu na quantidade de comida que se perde nesse trajeto do produtor ao consumidor final? Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), cerca de um terço de todos os alimentos produzidos para o consumo humano se perde ou é desperdiçado. 

Toda essa comida serviria para alimentar as mais de 820 milhões de pessoas que passam fome ao redor do mundo. Além disso, é um custo anual de US$ 940 bilhões à economia mundial, cerca de R$ 4,2 trilhões na conversão direta. 

Esse gigantesco problema pode ser definido em duas palavras-chave: food loss e food waste. 

FOOD LOSS E FOOD WASTE

Food Waste é o desperdício de alimentos no final da cadeia produtiva. Como as sobras das refeições que são jogadas no lixo, por exemplo. Já o conceito de Food Loss é a perda de alimentos, ou seja, a quantidade perdida ao decorrer da cadeia produtiva, desde a colheita até a comercialização. Inúmeros casos contribuem para esse fenômeno, como armazenamento inadequado ou perda durante o transporte. 

A boa notícia é que cada vez mais foodtechs e agtechs chegam ao mercado com iniciativas para solucionar o food loss por meio da tecnologia e da análise de dados. Essas novas startups atuam em diversas frentes e setores.

Homem com tablet em laboratório de plantas (foto: Getty)

OPORTUNIDADE DE NEGÓCIOS

Para estudar um pouco mais sobre oportunidades de negócios, é necessário entender onde ocorre a maior perda de alimentos. André Fukugauti, gerente de projeto em Inovação Aberta da divisão agrícola da Bayer, lembra que a FAO acredita que 14% de toda a produção de alimentos é perdida nas etapas produtivas, sem contar o varejo e o armazenamento nos lares. 

“Grande parte de frutas e vegetais são perdidos ou avariados durante o transporte, sobretudo no Brasil, onde o modal predominante é o rodoviário. A falta do manejo adequado dos alimentos na logística também é um motivo relevante de perdas em armazenamento, por exemplo. Isso porque, caso não haja um cuidado maior nesta etapa, o risco de contaminação por pragas é muito alto", explica André. 

No início da cadeia, encontram-se outros problemas. O executivo comenta que a colheita precisa ser feita de maneira correta. Caso contrário, pode “reduzir a capacidade de crescimento ou vida útil daqueles alimentos”. Os motivos para o mesmo problema são inúmeros e podem ser encontrados em diversos pontos. Portanto, as soluções precisam ser multifacetadas de ponta a ponta.

Cientista da Bayer examinando uma vinha de uva em laboratório (foto: Bayer)

TECNOLOGIA CONTRA FOOD LOSS

Ainda na lavoura, agtechs utilizam a inteligência artificial para monitorar a plantação e fornecer diagnósticos ao produtor, de modo que reduza a perda de alimentos e aumente a produtividade no campo. É o caso da Cromai, startup criada em 2017 em São Paulo que utiliza tecnologia de visão computacional para ajudar em decisões agronômicas. 

Já outras estratégias empregam a biotecnologia, que, dependendo do problema, pode melhorar a qualidade, estender a vida útil, bem como deixar a colheita imune a pragas. A Intelligent Foods é um bom exemplo. A startup de Itupeva (SP) desenvolveu soluções orgânicas que aumentam o prazo de validade dos produto sem precisar de conservantes ou afetar sua qualidade. 

Para o processo de armazenamento, algumas tecnologias monitoram a vida útil do alimento, assim como a temperatura do ambiente onde está armazenado. É o caso da Alimentares, que desenvolveu a AriaTemp, um sensor conectado que monitora a temperatura de ambientes e envia alertas quando alguma temperatura está diferente do previsto. De tempos em tempos, gera relatórios automáticos sobre o armazenamento do alimento e evita que ele possa ser jogado fora. 

No momento da distribuição e varejo, algumas empresas atuam para promover as “comidas feias”, como é o caso da Fruta Imperfeita, ou comidas próximas ao prazo de validade, conectando comércios a consumidores, que, por sua vez, as compram por um preço mais baixo.

Fruta Imperfeita (foto: divulgação)

RETORNO FINANCEIRO E ATITUDE SUSTENTÁVEL

Ao decorrer dos anos, a batalha contra a perda de alimentos começou a ser abraçada também por empresas já consolidadas do ramo alimentício. Entre os resultados imediatos, elas perceberam um retorno positivo financeiro simplesmente pela quantidade de alimentos que não foram perdidos na cadeia. 

Uma pesquisa de 2017 promovida pela WRAP (Worldwide Responsible Accredited Production) e pela WRI (World Resources Institute) verificou que metade das empresas procuradas tiveram um retorno financeiro 14 vezes maior do que o investido para reduzir a perda alimentícia. Em outras palavras, para cada US$ 1 investido em iniciativas e projetos para reduzir a perda de comida na produção, US$ 14 eram economizados

Em conjunto com a economia, está o uso consciente de recursos naturais. De acordo com a mesma pesquisa, o equivalente ao território da China hoje é utilizado para cultivar alimentos que não são consumidos. Além disso, estima-se que 8% dos gases de efeito estufa são atribuídos a alimentos que foram produzidos, porém nunca ingeridos.

Sistema e tecnologia desenvolvidos pela Cromai (foto: reprodução)

De quebra, por se tratar de um assunto contemporâneo, com uma “data-limite” e envolver o conceito de sustentabilidade, empresas que tenham como pilar a prevenção da PDA (perda ou desperdício alimentar) conseguem melhorar a reputação diante de investidores, fornecedores e consumidores.

Quem busca por soluções nesta área, ganha um aliado estratégico. Em 2015, a FAO, junto a outros 15 países, criaram a ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) 12.3, cuja meta é reduzir pela metade o desperdício e a perda alimentar per capita mundial até 2030. 

Por sua vez, em 2018 o Brasil criou a “Estratégia Intersetorial para a Redução de Perdas e Desperdício de Alimentos no Brasil", que busca coordenar ações voltadas a prevenir o food loss e food waste. O plano visa fomentar a inovação tecnológica, apoiar campanhas nesta área e incentivar pesquisas que auxiliem na determinação das causas e possíveis soluções da perda e desperdício alimentar no país.

Mudas de alface com cientista (foto: Getty)

MELHORAMENTO GENÉTICO É ALIADO DA BAYER

André comenta que a Bayer, como uma empresa de saúde e nutrição, fornece soluções inovadoras e sustentáveis para os agricultores: “Enquanto uma das líderes do setor, temos a responsabilidade de atuar pela melhora não só das práticas agrícolas, como também de outros elos da cadeia que estão conectados ao nosso negócio”. Ele menciona como a tecnologia desenvolvida pela empresa pode ajudar a reduzir as perdas ao longo da cadeia, como no caso do melhoramento genético, por exemplo.

“O melhoramento é uma das soluções que, além da possibilidade de deixar os alimentos mais nutritivos, auxilia na redução dos altos índices de perda ao aumentar a vida útil deles”. Se inclui neste caso o desenvolvimento genético de melões que permitiu produzir frutas no Brasil com uma shelf-life (tempo de prateleira) suficiente para que a fruta chegue em excelentes condições de consumo até na China. 

Outros tipos de aperfeiçoamento ocorrem com o tomate rasteiro e com o Melão Galia. A Bayer conseguiu desenvolver variedades de tomates rasteiros e mais firmes, cujo shelf-life é prolongado em até 10 dias a fim de atender estados da região norte do país. No caso do melão, a empresa tornou a fruta resistente à mosca minadora. ”A praga impedia os produtores de conduzir a planta do melão até o final de sua fase produtiva”. Isso impedia os agricultores de atingir a produção necessária para atender a demanda do consumo europeu durante o outono e inverno.

DESAFIO PARA SOLUCIONAR A PERDA DE ALIMENTOS NO BRASIL

Procurando por iniciativas empreendedoras com ideias disruptivas para sanar a perda de alimentos na cadeia produtiva, a empresa alemã lançou o desafio de inovação aberta Food Loss Challenge. “Queremos reunir startups que tenham sua atenção voltada para quatro temas prioritários para o desenvolvimento do agronegócio no Brasil, que são: produção agrícola, tecnologia e processos digitais, aumento do shelf life e segurança dos alimentos”, explica o executivo. 

O foco do desafio, feito em parceria com o Food Tech Hub Br, é co-desenvolver ferramentas inovadoras para a cadeia de frutas e hortaliças para reduzir ao máximo as perdas da cadeia produtiva. Especificamente, procuram por startups que possam trazer soluções nas culturas de tomate de mesa, melão, batata, folhosas e brássicas, como couve, repolho, nabo e brócolis. As inscrições estão abertas e o regulamento está disponível na íntegra pelo site https://foodlosschallenge.com.br/.

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