Entrevista com Cesario Martins, CEO da Zoop e palestrante do Payment Revolution
Cesario Martins em sua palestra no Payment Revolution 2025
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12 min
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30 set 2025
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Atualizado: 30 set 2025
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Cinco anos atrás, em plena pandemia, os restaurantes brasileiros enfrentaram uma tempestade: salões fechados, crédito escasso e a principal fonte de financiamento — a antecipação de recebíveis — praticamente paralisada.
Nesse contexto, o iFood entendeu que não poderia sobreviver se o seu ecossistema não sobrevivesse. Foi aí que nasceu o iFood Pago, apelidado internamente de “o banco do restaurante”.
Hoje, esse braço financeiro do iFood já transaciona mais de R$ 130 bilhões e deve liberar cerca de R$ 2,5 bilhões em crédito em 2025 para pequenos e médios negócios. Mais que números, trata-se de um sinal claro: empresas não financeiras estão se tornando provedores de serviços financeiros para sustentar e fortalecer seus ecossistemas.
O fenômeno tem nome: Embedded Finance. Ele permite que marketplaces, plataformas de delivery, varejistas e qualquer empresa com um ecossistema forte integrem pagamentos, crédito e até contas digitais à sua jornada de cliente. Não se trata de abrir agências ou virar banco formalmente. Mas de usar a intimidade com seu ecossistema e os dados acumulados para oferecer soluções financeiras personalizadas.
A StartSe realizou no dia 24 de setembro de 2025 o Payment Revolution, evento que reuniu grandes players do mercado de meios de pagamento e cerca de 1200 lideranças da área.
Entre os painelistas, estava Cesario Martins, CEO da Zoop, que é uma fintech as a service do iFood.
Ele explicou que o iFood não está sozinho.
Varejistas, plataformas de e-commerce e até shoppings já começam a criar suas próprias ofertas de crédito e pagamentos — sempre com a lógica de que quando o ecossistema cresce, a empresa cresce junto.
O movimento vai além das empresas. Ele representa inclusão financeira para milhões de empreendedores e consumidores que antes não tinham acesso a crédito ou meios de pagamento eficientes. No caso do iFood, significa permitir que pequenos restaurantes tenham fôlego para inovar e sobreviver — fortalecendo toda a cadeia.
A lição é clara: no futuro próximo, empresas que dominarem seu ecossistema e souberem integrar serviços financeiros terão uma vantagem competitiva decisiva.
Cesario conversou com a nossa redação. O papo rendeu insights importantes:
Redação StartSe: O que significa, na prática, uma empresa "ser um banco" em 2025?
Cesario Martins: Na prática, é a capacidade de oferecer serviços financeiros diretamente aos seus clientes, sem a necessidade de um banco tradicional como intermediário. Essa empresa pode ser um varejista, uma plataforma de e-commerce, uma empresa de software ou até mesmo uma startup.
Basicamente, ela incorpora funcionalidades bancárias (como contas digitais, pagamentos, transferências, crédito e até investimentos) dentro da sua própria jornada do cliente. Isso é possível graças a um movimento chamado "Embedded Finance" ou "Finanças Embutidas/Embarcadas", em que a tecnologia permite que essas funcionalidades sejam "embutidas" de forma invisível no produto ou serviço principal da empresa. O foco deixa de ser o "banco" e passa a ser a "experiência do cliente", que agora tem acesso a soluções financeiras personalizadas e integradas.
Redação StartSe: Como transformar empresas em bancos pode impulsionar a economia do futuro?
Cesario Martins: Na Inclusão financeira. Muitas pequenas e médias empresas e até mesmo empreendedores individuais, que antes tinham dificuldade de acesso a serviços bancários, agora podem ter soluções adaptadas à sua realidade, oferecidas por parceiros com quem já se relacionam.
Na aceleração de negócios: ao oferecer crédito e outras ferramentas financeiras diretamente, essas empresas conseguem capitalizar seus clientes e fornecedores, criando um ciclo virtuoso de crescimento. Por exemplo, uma plataforma de e-commerce pode oferecer crédito para que seus lojistas expandam seus estoques, impulsionando as vendas de toda a cadeia.
Nas novas fontes de receita: para as empresas, essa é uma oportunidade de diversificar suas receitas e se tornarem mais resilientes. A receita não vem apenas da venda de produtos, mas também dos serviços financeiros associados, como taxas de transação ou juros de crédito.
Redação StartSe: Qual é o papel da infraestrutura tecnológica nessa revolução dos pagamentos?
Cesario Martins: A infraestrutura tecnológica é a espinha dorsal dessa revolução. Sem ela, nada disso seria possível. O modelo de Banking as a Service (BaaS), por exemplo, é a base tecnológica que cuida de toda a complexidade regulatória, de segurança e de tecnologia. Ele permite que as empresas se conectem a redes de pagamento e ofereçam serviços financeiros de forma simples e escalável, sem ter que construir tudo do zero. A tecnologia é a habilitadora que democratiza o acesso ao mercado financeiro.
Redação StartSe: Você pode citar exemplos de empresas que já estão se tornando bancos usando esse modelo?
Cesario Martins: Existem vários exemplos. O Mercado Pago, criado pelo Mercado Livre, é um dos mais conhecidos, pois começou como uma solução de pagamentos e evoluiu para uma plataforma financeira completa para vendedores e compradores. Empresas de software que atendem nichos específicos, como academias ou clínicas, podem integrar pagamentos para que seus clientes recebam mensalidades diretamente na plataforma. Da mesma forma, grandes redes de varejo estão lançando seus próprios cartões e contas digitais para fidelizar seus clientes.
Redação StartSe: Na sua opinião, quais vantagens de empresas que adotam esse modelo x as que ainda operam do jeito antigo e não entenderam esse movimento?
Cesario Martins: Empresas que adotam esse modelo ganham uma vantagem competitiva enorme. Elas fidelizam os clientes ao se tornarem parte integral de sua vida financeira, e ao processar transações, elas obtêm dados que permitem personalizar ofertas. Além disso, a eficiência operacional aumenta, já que processos burocráticos são eliminados. As empresas que não entenderam esse movimento correm o risco de se tornar obsoletas, perdendo a oportunidade de criar novas receitas e de se tornarem ecossistemas completos para seus clientes.
Redação StartSe: Quais os maiores desafios dessa transformação e como você enxerga o futuro do setor nos próximos cinco anos?
Cesario Martins: Um dos grandes desafios é estar em conformidade com regulamentações complexas, mas é também o que garante segurança e proteção dos dados, o que é essencial. O futuro, nos próximos cinco anos, será marcado pela "fintechzação" de praticamente todas as empresas. Vejo o setor evoluindo para um cenário onde os serviços financeiros não estarão concentrados apenas em grandes bancos, mas sim embutidos em cada parte da nossa vida, desde o aplicativo do supermercado até o software de gestão da sua empresa. A barreira entre o mundo físico e o digital continuará a se dissolver, garantindo jornadas de pagamento sem fricção.
Redação StartSe: Pode detalhar um pouco da trajetória e soluções da Zoop e como ela se conecta a todo esse novo ecossistema?
Cesario Martins: A Zoop é a fornecedora de tecnologia que está por trás dessa revolução. Nossa trajetória está focada em democratizar o acesso ao mercado financeiro, construindo uma plataforma completa de soluções de embedded finance.
A Zoop não é um banco, ela é a infraestrutura que permite que qualquer empresa se torne um. Nossas soluções incluem contas digitais, processamento de pagamentos com cartão, Pix, transferências e ferramentas para a criação de soluções de crédito. Em essência, a Zoop conecta as empresas a todo esse novo ecossistema, permitindo que a inovação se torne uma realidade acessível para qualquer negócio, de forma segura e eficiente.
Conheça mais sobre a Zoop aqui.
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