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Boom das healthtechs: Afya consolida relevância do segmento

Avanço tecnológico e contexto da pandemia abriram novas oportunidades no mercado da saúde e surgimento de startups promissoras.

Boom das healthtechs: Afya consolida relevância do segmento

Estetoscópio médico sobre tablet (foto: Montagem/Getty)

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Por Belisa Frangione

Quem nunca tinha ouvido falar em Healthtech provavelmente começou a encontrar essa palavra com muito mais frequência nos últimos três anos. Seja pelo crescimento de investimentos nas startups do setor ou pela pandemia da Covid-19, as empresas do setor estão vivendo uma alta.

Em uma definição simples, Healthtech é toda solução de tecnologia relacionada à saúde, que foca na resolução de algum problema do setor, através de alguma proposta inovadora. Essa proposta pode incluir desde cuidados médicos até soluções para toda uma rede relacionada.

“As Healthtechs existem já há um bom tempo, no entanto, com a pandemia, houve um crescimento e uma evolução muito grande. O que possibilitou isso foi o fato de o mercado de saúde ter muito dinheiro e muita oportunidade para o desenvolvimento de soluções que sejam disruptivas para a redução de custos do sistema todo”, opina Júlio de Angeli, VP de Inovação e Serviços Digitais da Afya.

COMO SE DEU ESSA EVOLUÇÃO

Há cerca de dez anos, o primeiro passo para a exponencialidade da área da saúde teve a ajuda de uma nova tecnologia. A chegada do Big Data permitiu que várias informações maciças sobre muitos pacientes ficassem disponíveis para serem trabalhadas. Softwares, insights e tecnologia entraram em ação, a fim de oferecer soluções mais rápidas e mais precisas para os diagnósticos.

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“Isso facilitou muito a organizar e prever melhores condutas em saúde e tratamentos mais adequados e eficazes. Não é só existir uma tecnologia, é trazê-la para o dia a dia do paciente. Hoje já temos softwares que determinam diagnósticos, que auxiliam na perspectiva do que chamamos de prognóstico da doença e que ajudam o médico até na tomada de decisão”, explica Alberto Arbex, Coordenador da Pós-graduação em Endocrinologia da Faculdade Ipemed Afya e Doutor em Obesidade pela Fiocruz Rio.

Arbex explica que hoje, por exemplo, um debate sobre as Healthtechs inclui os chamados wearables, que são tecnologias vestíveis, como um smartwatch ou um relógio inteligente, que coleta dados de pressão arterial, ritmo cardíaco e transmite essas informações para o médico tomar decisões. “Todas essas áreas nas quais o software e a área humana e médica interagem são muito promissoras nas Healthtechs. E estão ocorrendo evoluções de maneira bastante rápida”, complementa.

O MERCADO NO BRASIL

Angeli afirma que, por aqui, o mercado está aquecido. Principalmente por conta da pandemia, que acelerou o crescimento de muitos serviços. De acordo com o relatório Distrito Health Tech Report 2020, há um total de 542 Healthtechs em funcionamento no Brasil. Em 2018, o estudo contabilizou 248. Outro dado importante é que a grande maioria dessas mais de 500 startups têm menos de cinco anos de operação.

“Olhando aqui do lado da Afya, só em 2020 nós investimos mais de R$ 300 milhões em aquisições de Healthtechs. Segundo esse relatório do Distrito, o número de negociações vem aumentando consideravelmente. No ano passado, foram mais de 40 transações e quase 100 milhões de dólares de investimento nesse tipo de startup no Brasil”.

Um fato: os médicos estão cada vez mais utilizando serviços digitais e o cenário é de inflação médica extremamente alta. Isso demanda uma necessidade de modernização do setor através de soluções que sejam inovadoras para a redução de custos. Existe ainda a busca constante pela melhor utilização dos dados.

“Tem muita oportunidade dentro da ineficiência do sistema para que a gestão da saúde seja melhorada. Vejo uma oportunidade muito grande também no lado de dados, como usá-los melhor dentro da saúde para que o sistema seja melhor, mais inteligente e para que exista mais acesso à saúde suplementar aqui no país”, diz o VP.

Segundo o Distrito Health Tech Report 2020, até o ano passado, as Healthtechs conseguiram captar aproximadamente US$ 430 milhões em investimentos. Em 2017, ocorreram seis rodadas de Venture Capital, com mais de US$ 150 milhões captados.

Embora 2020 tenha sido o ano da pandemia, até junho, quando o relatório foi divulgado, foram identificados aproximadamente 25 aportes que totalizaram US$ 66,5 milhões.

A CONSOLIDAÇÃO PELA AFYA

AFYA Educacional na bolsa de Nasdaq (foto: Divulgação)

A Afya tem como um de seus propósitos olhar as Healthtechs que têm algum tipo de solução para médicos, que apoiem o profissional de saúde na sua jornada de trabalho ou de aprendizagem.

“Nós adquirimos sete startups Healthtechs desde 2020. Trouxemos softwares de decisão clínica, como o WhiteBook, e hoje já são 180 mil médicos que utilizam esse serviço todo mês. Pelo menos 125 mil são assinantes do serviço mensalmente, uma taxa de engajamento altíssima”, detalha Angeli.

Outra aquisição da Afya foi o segundo player de mercado, a MedPhone, por R$ 6,4 milhões. A empresa também trouxe a iClinic, um software de gestão para clínicas e prontuário eletrônico que também conta com serviço de telemedicina.

As soluções da Afya também englobam a parte de prescrição médica, pensando na jornada de receber o paciente, fazer o diagnóstico e entender, após o diagnóstico, qual o tratamento. Angeli conta que há ainda uma fintech que apoia o médico para fazer adiantamento de recebíveis de plano de saúde e o pilar de engajamento do paciente. 

“Softwares e soluções voltados às doenças crônicas e que auxiliem a se engajar no tratamento são fundamentais. O paciente que não se dedica gera um custo muito alto ao sistema de saúde. Então estamos nos consolidando nessas frentes, com uma base de dados muito grande e gerando uma comunidade de médicos”. Angeli completa dizendo que a Afya tem hoje 35% de market share do ponto de vista de algum serviço médico que um acadêmico de medicina usa hoje no país.

OS DESAFIOS

Médico e tecnologia (foto: Getty)

Angeli acredita que hoje o principal desafio de uma Healthtech é conseguir achar um produto que, de fato, se encaixe como uma solução dos problemas que existem hoje na área da saúde e ajude o setor a crescer de forma rápida. “É um mercado que está acostumado e opera de forma bastante tradicional, mas que é carente dessas soluções”.

“Existe também o desafio de crescer e monetizar seus serviços da melhor forma para começar a gerar margem. Com um montante tão grande de investimento, essas empresas precisam começar a gerar resultados e esse é um grande desafio não só para Healthtechs, mas para qualquer startup que precisa se posicionar no mercado”, alerta Angeli.

Para uma Healthtech dar certo, Angeli lembra que é imprescindível também que ela trabalhe com um problema crônico do setor, tenha um time bom de empreendedores e que a solução atinja de fato a “dor” que se quer eliminar.

“Aqui na Afya não olhamos só para uma dor que existe no setor. Olhamos também toda essa jornada do médico, quais são os problemas que existem ali e como as Healthtechs solucionam esses problemas para que o médico seja mais assertivo e gaste o seu tempo principalmente com o que é mais importante. Soluções que deixam tempo para o médico fazer o que ele sabe de melhor”.

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